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para a necessidade de se cumprir o estabelecido em 1608 pelo prelado anterior que<br />
determinara "que os tais estrangeiros cismáticos e hereges não podem tratar nem disputar<br />
com a gente da terra sobre a fé, nem fazer cousa, que dece escandalo". Isto derivava<br />
certamente da assídua frequência de mercadores ingleses à cidade do Funchal, que assumiam<br />
uma posição dominante nas trocas externas.<br />
ROTA FLORA E FAUNA<br />
A expansão atlântica revelou ao europeu um novo mundo, onde a flora e a fauna dominaram<br />
a admiração dos protagonistas. A descoberta da nova realidade fez-se não só pelo valor<br />
alimentar e económico, mas também científico, Sendo de destacar os estudos de Garcia da<br />
Horta, Cristóvão da Costa, Duarte Barbosa. O processo de povoamento implicava<br />
obrigatoriamente um processo de migração de plantas, animais e técnicas de recolecção,<br />
cultivo e transformação destes. De acordo com João de Barros os portugueses levavam “todas<br />
as sementes e plantas e outras coisas com quem esperava de povoar e assentar na terra” 113 .<br />
O retorno foi igualmente rico e paulatinamente revolucionou o quotidiano europeu e algumas<br />
das novas plantas entraram rapidamente nos hábitos das populações que cedo se perdeu o<br />
rastro da origem passando a ser considerada como indígena. No processo foi importante o<br />
papel de portugueses e espanhóis na troca de plantas entre o Novo e o Velho Mundo. Dos<br />
quatro cantos do mundo o contributo para a valorização do património natural foi evidente.<br />
No Oriente foram as especiarias que dinamizadora as rotas comerciais e cobiça dos europeus.<br />
A América revelou-se pela variedade e exoticidade das plantas e frutos, com valor alimentar,<br />
que contribuíram em África para colmatar a deficiência. O processo de migração de plantas e<br />
culturas não foi pacífico, pois em muitos casos provocou alterações catastróficas no quadro<br />
natural. Isto aconteceu em regiões e paisagens sujeitas à violência de uma monocultura<br />
solicitada pelos mercados internacionais. Estão neste caso a cana sacarina, o cacau, o café e o<br />
algodão.<br />
<strong>As</strong> ilhas assumiram em todo este processo um papel fundamental ao assumiram o papel de<br />
viveiros de aclimatação das plantas e culturas em movimento. A Madeira foi o viveiro de<br />
aclimatação nos dois sentidos. Da Europa propiciou a transmigração da fauna e flora<br />
identificada com a cultura ocidental. No retorno foram as plantas do Novo Mundo que<br />
tiveram de novo passagem obrigatória pela ilha. A riqueza botânica do Funchal resulta disso.<br />
O processo de imposição da chamada biota europeia, no dizer de Alfred Crosby 114 , foi<br />
responsável por alguns dos primeiros e mais importantes problemas ecológicos.<br />
A Madeira surge, nos alvores do século XV, como a primeira experiência de ocupação em<br />
que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo isto foi, depois,<br />
utilizado, em larga escala, noutras ilhas e no litoral africano e americano. O arquipélago foi o<br />
centro de irradiação dos sustentáculos da nova sociedade e economia do mundo atlântico: os<br />
Açores, depois os demais arquipélagos e regiões costeiras onde os portugueses aportaram. A<br />
par disso a ilha foi, nos alvores do século XV, a primeira experiência de ocupação em que se<br />
ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucionais. Tudo isto foi depois utilizado em<br />
larga escala noutras ilhas e no litoral africano e americano. O arquipélago foi o centro de<br />
divergência dos sustentáculos da nova sociedade e economia do mundo atlântico: primeiro os<br />
Açores, depois os demais arquipélagos e regiões costeiras onde os portugueses aportaram.<br />
113 Ásia, década I, p.552<br />
114 Imperialismo Ecológico. A Expansão biológica da Europa: 900-1900, S. Paulo, 1993.