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As Ilhas e o sistema Atlântico

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João de Melo da Câmara, irmão do capitão da ilha de S. Miguel, resumia em 1532 34 de uma<br />

forma perspicaz o protagonismo madeirense no espaço atlântico, pois a família era portadora<br />

de uma longa e vasta experiência. Isso dava-lhe o alento necessário e abri-lhe perspectivas<br />

para uma sua iniciativa no Brasil. Ele reclamava o protagonismo do ancestral Rui Gonçalves<br />

da Câmara que em 1474 comprara a ilha de S. Miguel, dando início ao povoamento. A<br />

mesma percepção surge em Gilberto Freire que em 1952 não hesita em afirmar o seguinte: "A<br />

irmã mais velha do Brasil é o que foi verdadeiramente a Madeira. E irmã que se estremou<br />

em termos de mãe para com a terra bárbara que as artes dos seus homens,... Concorreram<br />

para transformar rápida e solidamente em nova Lusitânia" 35 .<br />

Outra componente importante da afirmação da ilha como modelo de referência tem a ver com<br />

a organização da sociedade no espaço atlântico e da importância aí assumida pelo escravo.<br />

Mais uma vez a Madeira é o ponto de partida para esta transformação social. De acordo com<br />

S. Greenfield 36 ela serviu de trampolim entre o "Mediterranean Sugar Production" e a<br />

"Plantation Slavery" americana. O autor não faz mais do que retomar os argumentos aduzidos<br />

por Charles Verlinden 37 desde a década de sessenta. Os argumentos mereceram alguns<br />

reparos na formulação, mercê de novos estudos 38 .<br />

Na verdade tudo o concretizado em termos do mundo atlântico português teve por matriz o<br />

sucedido na Madeira. A Madeira foi ao nível social, político e económico, o ponto de partida<br />

para o "mundo que o português criou..." nos trópicos. É sumamente importante o<br />

conhecimento do sucedido na Madeira quando pretendemos estudar e compreender outras<br />

situações.<br />

O mesmo protagonismo que é atribuído à Madeira em relação ao mundo português poderá ser<br />

concedido às Canárias para o império de Castela 39 . Tenha-se em conta que as ilhas,<br />

nomeadamente a de La Gomera foram o pilar fundamental de apoio das viagens colombinas e<br />

depois de toda a estratégia imperial 40 . Note-se que foi a partir desta última ilha que os<br />

castelhanos fizeram chegar a cultura da cana sacarina às ilhas da América central 41 . É a partir<br />

daqui que se estabelece uma evidente relação com as Índias, com forte expressão nos<br />

domínios, social, político, económico e cultura.<br />

ROTAS: HOMENS E PRODUTOS<br />

Os descobrimentos europeus não podem ser vistos apenas na perspectiva do encontro de<br />

34 História da Colonização Portuguesa do Brasil, vol. III, p.90; cf Vera Jane GILBERT, "Os primeiros engenhos de açúcar" in Sacharum, nº.3,<br />

São Paulo, 1978, pp. 5-12.<br />

35 Aventura e Rotina, 2ªed., pp 440-446, 448-449<br />

36 "Madeira and the beginings of New World sugar cane cultivation and plantation slavery: a study in constitution building", in Vera RUBIN e<br />

Artur TUNDEN(eds.), Comparative perspectives on slavery in New World Plantation Societies, N. York, 1977.<br />

37 "Précédents et paralèlles europeéns de l'esclavage colonial", in Instituto, vol.113, Coimbra, 1949; "Les origines coloniales de la civilization<br />

atlantique. antécédents et types de structure", in Journal of World History, 1953, pp. 378-398; Précédents médiévaux de la colonie emn<br />

Amérique, México, 1954; Les origines de la civilization atlantique, Nêuchatel, 1966.<br />

38 Confronte-se Alfonso FRANCO SILVA, "La eclavitud en Andalucia...", in Studia, nº.47, Lisboa, 1989, pp.165-166; Alberto VIEIRA, Os<br />

escravos no arquipélago da Madeira. séculos XV a XVII, Funchal, 1991.<br />

39 . Como o confirmam inúmeros textos de A. Rumeu de Armas, Pierre Chaunu e Francisco Morales Padron.<br />

40 . António Tejera Gaspar, Las Cuatro Viajes de Colón y las Islas Canarias(1492-1502), La Laguna, Francisco Lemus Editor, 2000.<br />

41 Cf.Justo L. del Rio Moreno, Los Inicios de la Agricultura Europeia en el Nuevo Mundo, Sevilla, 1991, p.303.

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