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As Ilhas e o sistema Atlântico

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<strong>As</strong> mudanças no domínio político e económicas operadas ao longo dos séculos dezoito e<br />

dezanove não retiraram às ilhas a função primordial de escala e espaço de disputa do mar<br />

oceano. A frequência de embarcações manteve-se enquanto o corso ficou marcado por uma<br />

forte escalada, entre finais da primeira centúria e princípios da seguinte. Aos tradicionais<br />

corsários de França, Inglaterra, Holanda vieram juntar-se os americanos do Norte e Sul. A<br />

presença dos holandeses na disputa rege-se por condições específicas. Eles, porque detinham<br />

importantes interesses na cultura açucareira americana, procuravam assegurar o domínio de S.<br />

Tomé, Santiago e demais feitorias do comércio de escravos. A isso juntava-se o empenho na<br />

manutenção das rotas do tráfico e o objectivo de destruir os interesses açucareiros da área.<br />

Em 1598 foi o ataque a Santiago e no ano imediato a S. Tomé. Na última destruíram todos os<br />

engenhos em actividade. Mais tarde, com a ocupação da Baía e Pernambuco, os holandeses<br />

voltaram-se de novo para a Guiné com o objectivo de dominarem as rotas do comércio dos<br />

escravos. Daqui resultou a passagem em 1624 e 1625 de duas armadas para a Baía, com o<br />

objectivo de aí tomar posição, retornando depois em 1628 para conquistar Santiago e em<br />

1641 para ocupar S. Tomé e Angola. Nas últimas áreas mantiveram se até 1648, momento em<br />

que foram expulsos pelos portugueses. Perante a incessante investida de corsários no mar e<br />

em terra firme houve necessidade de definir uma estratégia de defesa adequada.<br />

No mar optou-se pelo necessário artilhamento das embarcações comerciais e pela criação de<br />

uma armada de defesa das naus em trânsito. Esta ficou conhecida como a armada das ilhas,<br />

fixa nos Açores e que daí procedia ao comboiamento das naus até porto seguro. Em terra foi o<br />

delinear de um incipiente linha de defesa dos principais portos, ancoradouros e baías, capaz<br />

de travar o possível desembarque destes intrusos. A partir da década de 70 e até aos<br />

princípios do século seguinte os conflitos que têm como palco o continente europeu e<br />

americano alargaram-se ao <strong>Atlântico</strong>. Aliás, o oceano é um activo protagonista das disputas<br />

entre os três principais beligerantes: Espanha, França e Inglaterra. Por isso Mário Hernandez<br />

Sánchez-Barba 222 define o século XVIII por três realidades: guerra, diplomacia e comércio.<br />

Entre elas existe uma perfeita sintonia. A tudo isto junta-se a permanente preocupação com a<br />

organização militar e a defesa da costa, porque o perigo espreita no mar a qualquer momento.<br />

É de acordo com esta ambiência que deverá considerar-se a presença dos corsários. Os<br />

arquipélagos da Madeira e Açores foram a encruzilhada de intercepção do fogo resultante da<br />

guerra de represália americana e europeia. O corso europeu incidia preferencialmente sobre as<br />

embarcações espanholas e francesas e motivava uma resposta violenta das partes molestadas,<br />

como sucederá com a investida francesa contra os ingleses em 1793, 1797, 1814. Os últimos<br />

foram de todos aqueles que actuaram com maior segurança, pois haviam montado um plano<br />

de domínio do <strong>Atlântico</strong>, servindo-se do Funchal como principal porto de apoio para as<br />

incursões.<br />

O mar açoriano era o alvo preferencial dos corsários americanos pelo que a maioria dos<br />

assaltos têm aí lugar. <strong>As</strong> principais vítimas do corso americano foram os portugueses e<br />

espanhóis. A permanente ameaça de corsários redobrou o empenho nas obras de defesa, que<br />

resultaram várias campanhas, entre finais do século dezoito e princípios do seguinte. A<br />

incidência foi mais acentuada nas ilhas da Madeira, S. Miguel e Terceira. Concluídas as obras<br />

de restauro das fortificações, apaziguado o ímpeto dos corsários, viveu-se, a partir da década<br />

de trinta, um período de relativa acalmia, seguido nas décadas de cinquenta e sessenta com<br />

novas campanhas de rectificação dos recintos fortificados, conforme os princípios<br />

222 El mar en la Historia de América, Madrid, 1992, p. 239.

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