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novas terras, novas gentes e culturas, pois a isto deverá associar-se o movimento de migração<br />
humana, que arrastou consigo um universo envolvente de fauna, flora, tecnologia, usos e<br />
tradições que tiveram um impacto evidente em todo o processo. Estamos perante aquilo a que<br />
Pierre Chaunu define como desencravamento planetário, vinculado às transformações<br />
operadas pela a expansão europeia do século XV, que retirou ao europeu a ideia restrita de<br />
mundo e fez com que se avançasse paulatinamente para o que hoje definimos como aldeia<br />
global. Os Descobrimentos foram também responsáveis pela transformação e revolução<br />
ecológica, com impactos positivos ou negativos. Uma das transformações fundamentais<br />
ocorreu ao nível alimentar com a descoberta de novos produtos e condimentos que<br />
enriqueceram a dieta alimentar.<br />
NAVEGANTES, AVENTUREIROS E EMIGRANTES.<br />
Os Descobrimentos Portugueses do século XV foram o início de um novo processo de<br />
transmigração das populações europeias. Portugal, porque pioneiro, assumiu um lugar de<br />
destaque. O padre António Vieira terá afirmado que "Deus deu aos portugueses um berço<br />
estreito para nascer e um mundo inteiro para morrer".<br />
Á tradicional movimentação interna das populações, resultante da reconquista e ocupação do<br />
espaço, sucedem-se outros movimentos para fora do continente, de acordo com os<br />
descobrimentos e a necessidade de ocupação de novos espaços. De acordo com Camões os<br />
portugueses chegaram às sete partidas do mundo: "e se mais mundo houvera, lá chegara".<br />
Aliás, o poeta é, em certa medida, a materialização disso: em Ceuta e, depois, na Índia, em<br />
1553, a vida é a expressão dos protagonistas dos descobrimentos: degradado, aventureiro,<br />
soldado e funcionário. Por tudo isto o vate estava devidamente informado para evocar a<br />
diáspora nacional em Os Lusíadas 42 .<br />
Estamos perante um movimento dinâmico. Os que partem cruzam-se com os que chegam. Os<br />
últimos tanto podem ser os escravos, resultantes das razias africanas ou presas da guerra<br />
marroquina, ou estrangeiros sedentos de notícias e de participar na aventura do descobrimento<br />
ou comércio. É uma empresa nacional. Deste modo A.J.RUSSELL-WOOD 43 não hesita em<br />
afirmar que "The portuguese seaborne empire was characterized by a constant flux and reflux<br />
of people. Some were in the service of the crown, others servants of God, others servants of<br />
men, others captive of their own self-interest and cupidity, and still others who were<br />
essentially part of the flotsam and jetsam of empire. Some travelled voluntarily, whereas<br />
others were coerced or forcefully transported against their will.". Por aqui se vê quão variado<br />
foi o processo. No período que decorre da conquista de Ceuta a meados do século dezasseis.<br />
definiu-se o espaço de ocupação portuguesa no novo mundo e os principais rumos das<br />
migrações, encaradas como movimento individual ou colectivo. De acordo com J. RUSSEL-<br />
WOOD 44 o primeiro foi evidente no Índico, enquanto o segundo está expresso no <strong>Atlântico</strong>.<br />
42 . Veja-se Armando de Castro, Camões e a sociedade do seu tempo, Lisboa, 1980; IDEM, "Camões emigrante, poeta do drama da<br />
emigração", in Revista Camões, nº.2-3, 1980. Luís de ALBUQUERQUE, "Luís de Camões. O cantor de uma obra colectiva", in<br />
Navegadores viajantes e aventureiros portugueses. sécs.XV e XVI, vol. I, Lisboa, 1987, pp.143 -156; Martim de ALBUQUERQUE, A<br />
expressão do poder em Luís de Camões, Lisboa, 1988.<br />
43 . A World on the move. The Portuguese in Africa, <strong>As</strong>ia, and America 1415-1808, London, 1992<br />
44 . Ob.cit., pp.112-119.