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As Ilhas e o sistema Atlântico

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que o Funchal foi por muito tempo um porto de apoio aos contactos entre as Canárias e o<br />

velho continente. A assiduidade de contactos entre os arquipélagos, evidenciada pela<br />

permanente corrente emigratória, define-se como uma constante do processo histórico dos<br />

arquipélagos, até ao momento que o afrontamento político ou económico os veio separar. A<br />

última situação emerge na segunda metade do século dezassete como resultado da<br />

concorrência do vinho produzido, em simultâneo, nos três arquipélagos.<br />

O trigo foi, sem dúvida, o principal móbil das conexões inter-insulares. O comércio entre a<br />

Madeira e as Canárias era muito anterior ao estabelecimento dos primeiros contactos com os<br />

Açores. O relacionamento iniciara-se em meados do século quinze, activado pela<br />

disponibilidade no arquipélago de escravos, carne, queijo e sebo. Mas a insistência dos<br />

madeirenses nos contactos com as Canárias não terá sido do agrado ao infante D. Fernando,<br />

senhor da ilha, interessado em promover os contactos com os Açores. Apesar disso eles<br />

continuaram e a rota adquiriu um lugar relevante nas relações externas da ilha, valendo-lhe a<br />

disponibilidade de cereal e carne, que eram trocados por artefactos, sumagre e escravos<br />

negros. A última situação surge, na primeira metade do século dezassete, com evidência nos<br />

contactos entre a Madeira, Lanzarote e Fuerteventura. Algo diferente sucedeu nos contactos<br />

comerciais entre os Açores e as Canárias, que nunca assumiram a mesma importância das<br />

madeirenses. A pouca facilidade nas comunicações, a distância entre os dois arquipélagos e a<br />

dificuldade em encontrar os produtos justificativos de intercâmbio fizeram com que as trocas<br />

fossem sazonais. Só as crises cerealíferas do arquipélago de Canárias fizeram com que o trigo<br />

açoriano aí chegasse em 1563 e 1582. Por vezes a permuta fazia-se a partir da Madeira, como<br />

sucedeu em 1521 e 1573. A contrapartida de Canárias baseava-se no vinho, tecidos europeus<br />

e o breu.<br />

<strong>As</strong> relações inter-insulares com os arquipélagos além do Bojador situavam-se num plano<br />

distinto. Primeiro as dificuldades na ocupação só conduziram ao imediato e pleno<br />

povoamento de uma ilha em cada área --Santiago e S. Tomé --, que passou a actuar como o<br />

principal eixo do trato interno e externo. Depois, o aproveitamento económico não foi<br />

uniforme e de acordo com as solicitações do mercado insular aquém do Bojador, assumindo,<br />

por vezes, como sucede com S. Tomé uma posição concorrencial. Por fim, registe-se que os<br />

espaços existiam mais para satisfazer as necessidades do vizinho litoral africano do que pela<br />

importância económica interna. Do relacionamento com os do Mediterrâneo <strong>Atlântico</strong> é<br />

evidente o empenho dos últimos no tráfico negreiro, com maior evidência para os<br />

madeirenses e canarianos 214 . Os madeirenses que aí aparecem foram favorecidos pelo<br />

comprometimento com as viagens de exploração e comércio ao longo da costa africana e da<br />

presença, ainda que temporária, do porto do Funchal no traçado das rotas. Ao invés, os<br />

Açores mantiveram-se por muito tempo como portos receptores das caravelas que faziam a<br />

rota de retorno ao velho continente.<br />

Os contactos com as ilhas do golfo da Guiné eram exíguos, uma vez que estiveram por muito<br />

tempo aquém dos interesses das gentes do Mediterrâneo <strong>Atlântico</strong>. Na verdade, se retiramos a<br />

eventual presença de madeirenses para transmitir os segredos da cultura açucareira, o<br />

aparecimento é tardio e rege-se pela necessidade de capturar escravos nas costas vizinhas,<br />

situação comum também com as Canárias. A malagueta, pimenta e marfim não eram<br />

produtos capazes de despertarem o interesse das gentes insulares e, além disso, tinha como<br />

destino obrigatório a Casa da Mina em Lisboa.<br />

214 . Manuel Lobo Cabrera," Relaciones entre Gran Canaria Africa y América a través de la trata de negros", in II Colóquio de Historia Canario Americana, Las Palmas,<br />

1977, 77-91; idem, La esclavitud en las Canarias orientales en el siglo XVI. negros, moros y moriscos, Las Palmas, 1979, 104-110; Elisa TORRES SANTANA, "El<br />

comércio de Gran Canaria con Cabo Verde a principios del siglo XVII", in II Coloquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1990, 761-778.

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