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sob as ordens de Frei Henrique Álvares 67 . A missão dos religiosos não se resumia apenas a<br />
assegurar a actividade de culto, a bordo e nos locais de fixação, à conversão dos gentios, pois<br />
podem ter também a missão específica de embaixadores. Depois foi a fixação com a criação<br />
de casas de franciscanos, dominicanos e, finalmente, jesuítas. Isto provocou a ida de muitos<br />
clérigos, oriundos do reino ou estrangeiro 68 . A estes juntam-se outros grupos de degredados<br />
ou aventureiros e também os judeus, que fundiram a diáspora com a dos descobrimentos 69 . O<br />
ano de 1497 marca o início da diáspora da comunidade judaica portuguesa, que os conduziu<br />
ao Norte de África, às ilhas, Costa da Guiné e Brasil 70 . Um dos factos mais significativos<br />
deste fluxo étnico sucedeu em S. Tomé com a ida em 1470 de 2000 crianças judias,<br />
arrancadas do seio da família para as terras inóspitas do Golfo da Guiné 71 . É de salientar que<br />
a presença da comunidade judaica nas terras da Costa da Guiné foi importante, tornando-se,<br />
por vezes, incómodos pela condição de lançados 72 . Tudo isto é revelador de algumas<br />
especificidades deste fluxo migratório provocado pelos descobrimentos. Às crianças judias<br />
enviadas para S. Tomé juntam-se as "órfãs del rei" no Oriente a partir de 1545. Estas foram<br />
recrutadas em Lisboa e Porto e conduzidas à Índia com a promessa de um dote e casamento 73 .<br />
A presença da mulher nas expedições rege-se por determinadas regras 74 . Aqui, ao contrário de<br />
Castela 75 , a coroa portuguesa nunca promoveu a saída da mulher, pois toda a política foi, no<br />
início, de desencorajamento. Os descobrimentos parecem conjugar-se no masculino. A<br />
mulher, quase só está presente nos casos de ocupação nas ilhas e Norte de África, sendo<br />
proibida, nos primeiros dez anos, a bordo das caravelas da Índia. Depois a necessidade de<br />
fixação no Indico mudou a política promovendo a coroa a migração do sexo feminino. É de<br />
salientar que, quer em Marrocos, quer no Oriente, algumas mulheres ficaram nos anais da<br />
História pelo empenho na defesa das praças ou guarnições em momentos de aflição.<br />
Outra questão, de não menor importância, prende-se com a forma como se procedeu ao<br />
recrutamento. Há os que vão, de livre vontade, à aventura, os que cumprem uma missão como<br />
funcionários da coroa ou que se dispõem a qualquer serviço na mira de uma compensação 76 .<br />
Junta-se, depois, um grupo com grande destaque em todo o processo, os degredados ou<br />
prisioneiros. No momento de organização das armadas de defesa das praças marroquinas 77 , de<br />
67<br />
Manuel dos Santos ALVES, "A cruz, os diamantes e os cavalos: Frei Luís do Salvador, primeiro missionário e embaixador", in Mare<br />
Liberum, nº.5, 1993, pp.9-20.<br />
68<br />
Sobre esta temática confronte-se: António BRÁSIO, História e missiologia, Luanda, 1973; C. R. BOXER, A igreja e a expansão<br />
ibérica.1440-1770, Lisboa, 1975; Francisco Leite de FARIA, "Evangelização das terras descobertas no tempo de Bartolomeu Dias", in<br />
Congresso Internacional Bartolomeu Dias e a sua época. Actas, vol.V, Porto, 1989; João Paulo Oliveira e COSTA, "<strong>As</strong> missões cristãs em<br />
Africa", "<strong>As</strong> missões cristãs na China e no Japão", in Portugal no Mundo, vol.III, 1989, 88- 103, 143-157; Luís Filipe F. R. THOMAZ,<br />
"Descobrimentos e evangelização. Da cruzada à missão pacífica", in Congresso Internacional de História. Missionação Portuguesa e<br />
encontro de culturas. Actas, vol I, Lisboa, 1993, 81-129.<br />
69 Veja-se Luís de ALBUQUERQUE, Navegadores, viajantes e aventureiros portugueses. Séculos XV e XVI, 2 vols, Lisboa, 1987<br />
70 São muitos os estudos sobre os Judeus em Portugal, confronte-se a síntese actualizada de Maria José FERRO, Los judíos en Portugal,<br />
Madrid, 1992.<br />
71 Samuel USQUE, Consolação às tribulações de Israel, Coimbra, 1906.<br />
72 Maria Emília Madeira SANTOS, "Origem e desenvolvimento da colonização. Os primeiros lançados na Costa da Guiné. Aventureiros e<br />
comerciantes", Portugal no Mundo , vol.II, pp.125-136.<br />
73<br />
. Confronte-se C.R.BOXER, A mulher na expansão portuguesa ultramarina ibérica, Lisboa, 1977.<br />
74<br />
Sobre a presença da mulher na expansão veja-se: Elaine Sanceau, Mulheres portuguesas no ultramar, Porto, 1979; C.R. Boxer, A mulher na<br />
expansão ultramarina ibérica, Lisboa, 1977; Maria Regina Tavares da Silva, Heroínas da Expansão e Descobrimentos, Lisboa, 1989.<br />
75<br />
Veja-se Richart KONETZKE, "La imigración de mujeres españolas a América durante la época colonial", in Revista Internacional de<br />
Sociologia, nº.9-10, Madrid, 1945.<br />
76<br />
Veja-se no caso do Oriente o estudo de Luís de ALBUQUERQUE e José Pereira da COSTA, "Cartas de serviço da Índia (1500 -1550) ",<br />
in Mare Liberum, nº.1, 1990, 309-396.<br />
77 Confronte-se Luís Miguel DUARTE e José Augusto P. de Sotto Mayor PIZARRO, "Os forçados das galés (os barcos de João da Silva e<br />
Gonçalo Falcão na conquista de Arzila em 1471) ", in Congresso Internacional. Bartolomeu Dias e a sua época. Actas, vol. II, Porto, 1989,<br />
pp.313-328.