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implantar. O recurso aos africanos, como escravos ou não, foi a solução mais acertada para<br />
transpor o primeiro obstáculo. A alimentação era diferente, sendo baseada no milho zaburro,<br />
no arroz e inhame, culturas que aí, nas ilhas ou vizinha costa africana, medravam com<br />
facilidade. Perante isto os poucos europeus que aí se fixaram estiveram sempre dependentes<br />
do trigo, biscoito ou farinha, enviados das ilhas ou do reino, ou foram obrigados a adaptar-se<br />
à dieta africana.<br />
A dependência dos espaços continentais, com especial destaque para o europeu, não foi<br />
apenas apanágio dos primórdios da ocupação das ilhas. A situação persistiu por mais de<br />
quatro séculos, mantendo-se as ilhas na periferia da economia europeia e do mercado<br />
colonial, actuando de acordo com os ditames da política colonial. <strong>As</strong> culturas dominantes<br />
quase sempre em <strong>sistema</strong> de monocultura obedeceram a estes requisitos. Sucedeu assim com<br />
os panos e a cana sacarina em Cabo Verde, com o cacau em S. Tomé e Príncipe, com a<br />
laranja nos Açores e o vinho na Madeira.<br />
A segunda metade do século XIX pode ser considerada como uma das fases mais conturbadas<br />
da economia insular. Aqui é evidente a capacidade da ilha de S. Miguel no reajustamento da<br />
economia. A crise da laranja é prontamente suplantada com a aposta numa variedade de<br />
culturas (batata doce, chá tabaco, e ananás) e indústrias (tabaco, álcool). O reajustamento do<br />
processo de exploração agrícola é parceiro de uma discussão política sobre a forma de acabar<br />
com os entraves ao desenvolvimento económico. <strong>As</strong> orientações vão desde a discussão do<br />
<strong>sistema</strong> tradicional de propriedade ao novo regime de portos francos.<br />
O MUNDO ENVOLVENTE: ROTAS E MERCADOS. <strong>As</strong> ilhas assumiram um papel<br />
evidente no traçado das rotas comerciais atlânticas, sendo os principais pilares. A posição<br />
estratégica no meio do <strong>Atlântico</strong> valorizou-se nas transacções oceânicas. Ao mesmo tempo a<br />
riqueza reforçou a vinculação ao velho continente através da exploração desenfreada dos<br />
recursos ou da imposição de culturas destinadas ao mercado europeu, como foi o caso da cana<br />
sacarina e pastel. Mais a Sul as feitorias de Santiago, Príncipe e S. Tomé, para além de<br />
centralizarem o tráfico comercial em cada arquipélago, firmaram-se como os principais<br />
entrepostos de comércio com o litoral africano. Santiago manteve, até meados do século<br />
dezasseis o controlo do trato da costa da Guiné e das ilhas do arquipélago com o exterior. E<br />
foi também o centro de redistribuirão dos artefactos e mantimentos europeus e de escoamento<br />
do sal, chacinas, courama, panos e algodão. Enquanto a primeira situação, com o evoluir da<br />
conjuntura económica, foi perdendo importância, a segunda manteve-se por muito tempo,<br />
definindo uma trama complicada de rotas.<br />
O relacionamento entre as ilhas dos três arquipélagos atlânticos resultava não só da<br />
complementaridade económica, definida pelas assimetrias propiciadas pela orografia e clima,<br />
mas também da proximidade e assiduidade dos contactos. O intercâmbio de homens, produto<br />
e técnicas, dominou o <strong>sistema</strong> de contactos entre os arquipélagos. A Madeira, mercê da<br />
posição privilegiada entre os Açores e as Canárias e do parcial alheamento das rotas indica e<br />
americana, apresentava melhores possibilidades para o estabelecimento e manutenção de<br />
intercâmbios. Os contactos com os Açores resultaram da forte presença madeirense na<br />
ocupação e da necessidade de abastecimento em cereais, que o arquipélago dos Açores era<br />
um dos principais produtores. Com as Canárias as imediatas ligações foram resultado da<br />
presença de madeirenses, ao serviço do infante D. Henrique, na disputa pela posse do<br />
arquipélago e da atracção que elas exerceram sobre os madeirenses. Tudo isto contrastava<br />
com as hostilidades açorianas à rota de abastecimento de cereais à Madeira. Acresce, ainda,