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As Ilhas e o sistema Atlântico

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tradição, que filia os descobrimentos na região algarvia, vê na faixa litoral Sul do país a<br />

incidência dos agricultores, marinheiros e mercadores. Esta dedução resulta do facto de as<br />

primeiras expedições terem partido de Lagos 84 e de nelas se comprometerem muitos da casa<br />

do Infante que aí viviam, oriundos de várias localidades do país 85 . É certa a participação dos<br />

algarvios 86 , nomeadamente na primeira fase dos descobrimentos, conhecidos como<br />

henriquinos, mas foi um processo que empenhou todo o país. Na primeira expedição a Ceuta<br />

o infante D. Henrique percorreu o norte do país a recrutar as gentes para a armada. Note-se<br />

que no caso do Oriente foi precisamente na região entre o Sado e o Minho que Joaquim<br />

Veríssimo SERRÃO 87 encontrou maior número, que contrasta com o valor reduzido do<br />

Alentejo e Algarve. A situação, que decorre a partir do século XVI, com a expansão no<br />

Indico, foi igual 88 . Outro factor importante é a presença de estrangeiros, que actuaram como<br />

marinheiros, mercadores e povoadores. Alguns residiam já em Portugal e estavam<br />

naturalizados, outros afluem cativados pelas novas dos descobrimentos. Aqui merecem<br />

especial destaque para os italianos, oriundos das diversas cidades-estados, e os flamengos. No<br />

primeiro caso temos que a presença genovesa remonta ao tempo de D. Dinis 89 . Foi Manuel<br />

Pessanha encarregado pela coroa de organizar a armada que estará na origem dos<br />

descobrimentos. Aliás foram os genoveses, venezianos e florentinos quem mais usufruíram<br />

da abertura da coroa à participação estrangeira nos descobrimentos. Estes, mediante<br />

solicitação da coroa, ou através da naturalização por carta régia ou casamento-, integram-se<br />

nas viagens de descobrimento, povoamento e comércio 90 .<br />

AS ILHAS.<br />

“...porque a ilha da Madeira meu bisavô a povoou, e meu avô a de são Miguel, e meu tio a de são<br />

Tomé, e com muito trabalho, e todas do feito que vê...”João de Melo da Câmara, 1532.<br />

Foi o arquipélago madeirense o início da presença portuguesa no <strong>Atlântico</strong>, e o primeiro e<br />

mais proveitoso resultado desta aventura. Vários são os factores que se conjugaram para este<br />

protagonismo. A inexistência de população, em consonância com a extrema necessidade de<br />

valorização para o avanço das navegações ao longo da costa africana, favoreceu a rápida<br />

ocupação e crescimento económico da Madeira. Por isso, a afirmação nos primeiros anos dos<br />

descobrimentos, foi evidente: porto de escala ou apoio para as precárias embarcações<br />

quatrocentistas, que sulcavam o oceano; importante área económica, fornecedora de cereais,<br />

vinho e açúcar; modelo económico, social e político para as demais intervenções portuguesas<br />

no <strong>Atlântico</strong>.<br />

A Madeira foi no século XV uma peça primordial no processo de expansão. A ilha,<br />

84 Elaine SANCEAU, "O degredado João Machado", in Casos e Curiosidades, Porto, 1957, pp.181- 191; Maria Augusta Lima CRUZ, "<strong>As</strong><br />

andanças de um degredado em terras perdidas -João Machado", in Mare Liberum, nº.5, 39-47.<br />

85 Confronte-se Joaquim Veríssimo SERRÃO, História de Portugal, vol. II, Lisboa, 1979, pp. 135- 140.<br />

86 Veja-se Rui LOUREIRO, Lagos e os descobrimentos até 1460, Lagos, 1989;Maria Benedita ARAUJO, "Algarvios em S. Tomé no início<br />

do século XVI", in Cadernos Históricos, IV, Lagos, 1993, 27-39.<br />

87 História de Portugal, vol. III, Lisboa, 1980, 164-169.<br />

88 . Ibidem, vol.III, Lisboa, 1980, pp.164-169.<br />

89 Confronte-se Morais do ROSÁRIO, Genoveses na História de Portugal, Lisboa, 1977; Virgínia RAU, Estudos sobre História<br />

Económica e social do antigo regime, Lisboa, 1984; IDEM, "Uma família de mercadores italianos em Portugal no século XV: os<br />

Lomellini", in Revista da Faculdade de Letras, Lisboa, 1956, XVI, nº2, 56-69.<br />

90 Prospero PERAGALLO, Cenni in torno alla colonia italiana in Portogallo nei secoli XIV, XV e XVI, Torino, 1904; Charles<br />

VERLINDEN, "L'influenza italiana nela colonizzazione iberica.Uomini e metodi", in Nuova Rivista Storica, XXXVI, 1952, 254-270;<br />

Isabel Castro HENRIQUES, "Os italianos como revelador do projecto político português nas ilhas atlânticas(séculos XV e XVI)", in Ler<br />

História, nº.16, 1981.

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