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importantes entrepostos do trato negreiro africano no século XVI, tendo como principal<br />
destino, a partir do século dezasseis, o novo continente americano. A primeira feitoria<br />
dominava a vasta área, conhecida como os Rios de Guiné, enquanto a segunda estendia-se<br />
desde S. Jorge da Mina até Angola, passando por Axem e Benim. Aqui o povoamento só foi<br />
possível à custa de facilidades concedidas aos moradores para o comércio na cobiçada costa.<br />
S. Tomé assumiu lugar relevante no comércio do Golfo da Guiné até o último quartel do<br />
século dezasseis, sendo a crise, a partir de 1578, resultado do desvio das rotas para o litoral<br />
africano. Em Santiago, principal ilha do arquipélago de Cabo Verde e feitoria do comércio<br />
dos escravos dos Rios de Guiné, o comércio foi definido por outros rumos. No começo<br />
resultou da oferta das produções locais mas depois, com a abertura de novos mercados de<br />
escravos, foram solicitações externas que o motivaram. Eles passaram a ser conduzidos,<br />
primeiros à Europa e ilhas atlânticas e depois ao Brasil e Antilhas 215 . Para o último destino o<br />
comércio fazia-se sob a forma de contratos entre a coroa e os mercadores. A importância dos<br />
mercados no comércio de escravos para o continente americano ficou demonstrada em finais<br />
do século dezasseis, altura em que os povos estrangeiros se lançaram ao ataque dos principais<br />
entrepostos do tráfico negreiro, com particular relevo para os castelhanos. Os séculos<br />
seguintes não foram pautados por mudanças significativas na trama de rotas e mercados. A<br />
vinculação aos mercados tradicionais manteve-se e apenas mudaram os produtos<br />
propiciadores da troca. Nos Açores o mais significativo será a valorização dos portos de<br />
Horta e Ponta Delgada como eixos fundamentais do mercado externo. Enquanto a primeira<br />
evidencia a vinculação à América do Norte o segundo vê reforçada a posição com os<br />
mercados nórdicos.<br />
<strong>As</strong> mudanças mais significativas ocorreram nos arquipélagos de S. Tomé e Príncipe e Cabo<br />
Verde. A abolição do trato negreiro a partir de 1811 acabou com a tradição dependência dos<br />
arquipélagos ao mercado africano e a rota de ligação ao outro lado do <strong>Atlântico</strong> e conduziu a<br />
um reforço da presença e vinculação à metrópole. Toda a exploração económica foi orientada<br />
no sentido do fornecimento de produtos e matérias-primas indispensáveis ao<br />
desenvolvimento industrial da metrópole que, por sua vez, os abastecia de produtos<br />
manufacturados 216 .<br />
A ROTAS DOS PIRATAS E CORSÁRIOS.<br />
O século quinze marca o início da afirmação do <strong>Atlântico</strong>, novo espaço oceânico revelado<br />
pelas gentes peninsulares. O mar, que até meados do século catorze se mantivera alheio à vida<br />
do mundo europeu, atraiu as atenções e em pouco tempo veio substituir o mercado e via<br />
mediterrâneos. Os franceses, ingleses e holandeses que, num primeiro momento, foram<br />
apenas espectadores atentos, entraram também na disputa a reivindicar um mare liberum e o<br />
usufruto das novas rotas e mercados. Nestas circunstâncias o <strong>Atlântico</strong> não foi apenas o<br />
mercado e via comercial, por excelência, da Europa, mas também um dos principais palcos<br />
em que se desenrolaram os conflitos que definiam as opções políticas das coroas europeias,<br />
expressas muitas vezes na guerra de corso. Em 1434, ultrapassado o Bojador, o principal<br />
problema não estava no avanço das viagens, mas sim na forma de assegurar a exclusividade a<br />
partir daí, já que na área aquém deste limite isso não fora conseguido. Primeiro foi a<br />
concessão em 1443 ao infante D. Henrique do controlo exclusivo das navegações e o direito<br />
215 . E. VILA VILAR, Hispano-America y el Comercio de Esclavos. Los <strong>As</strong>ientos Portugueses, Sevilha, 1977; T. B. DUNCAN, Ob.cit., 198/238.<br />
216 Elisa Silva ANDRADE, <strong>As</strong> <strong>Ilhas</strong> de Cabo Verde da *Descoberta+ à Independência Naciona(1460-1975), Lisboa, Paris, 1996: Armando de CASTRO, O Sistema<br />
Colonial Português em África(meados do século XX), Lisboa, 1980.