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AS ILHAS, ATLÂNTICO E O NOVO MUNDO.<br />
Constroem-se em definitivo, a partir da Madeira, as linhas e redes de comércio atlânticos<br />
atraindo de modo decisivo as áreas e mercados europeus mais nevrálgicos e mais<br />
importantes e criando nas áreas ribeirinhas metropolitanas, insulares (Canárias, Açores,<br />
Cabo Verde) e continentais (Costa de Marfim-Magreb-Arguim-Fez) fortes relações de<br />
dependência e de solidariedade. Aurélio de Oliveira, A Madeira nas linhas de comércio do<br />
<strong>Atlântico</strong>. Séculos XV- XVII, III CIHM, Funchal, 1993, 923.<br />
A definição dos espaços económicos não resultou apenas dos interesses políticos e<br />
económicos derivados da conjuntura expansionista europeia mas também das condições<br />
internas, oferecidas pelo meio. Elas tornam-se por demais evidentes quando estamos perante<br />
um conjunto de ilhas dispersas no oceano. São ilhas com a mesma origem geológica, sem<br />
quaisquer vestígios de ocupação humana, mas com diferenças marcantes ao nível climático.<br />
Os Açores apresentavam-se como uma zona temperada, a Madeira como uma réplica<br />
mediterrânica, enquanto nos dois arquipélagos meridionais eram manifestas as influências da<br />
posição geográfica, que estabelecia um clima tropical seco ou equatorial. Daqui resultou a<br />
diversidade de formas de valorização económica e social. <strong>As</strong> condições morfológicas<br />
estabelecem as especificidades de cada ilha e tornam possível a delimitação do espaço e a<br />
forma de aproveitamento económico. Aqui o recorte e relevo costeiro foram importantes. A<br />
possibilidade de acesso ao exterior através de bons ancoradouros era um factor importante. É<br />
a partir daqui que se torna compreensível a situação da Madeira definida pela excessiva<br />
importância da vertente sul em detrimento da Norte.<br />
De acordo com as condições geo-climáticas é possível definir a mancha de ocupação humana<br />
e agrícola das ilhas. Isto conduziu a uma variedade de funções económicas, por vezes<br />
complementares. Deste modo nos arquipélagos constituídos por maior número de ilhas a<br />
articulação dos vectores da subsistência com os da economia de mercado foi mais harmoniosa<br />
e não causou grandes dificuldades. Os Açores apresentam-se como a expressão mais perfeita<br />
da realidade, enquanto a Madeira é o reverso da medalha. O processo de povoamento das<br />
ilhas definiu-lhes uma vocação de áreas económicas sucedâneas do mercado e espaço<br />
mediterrânicos. <strong>As</strong>sim o que sucedeu nos séculos XV e XVI foi a lenta afirmação do novo<br />
espaço, tendo como ponto de referência as ilhas.<br />
A mudança de centros de influência foi responsável porque os arquipélagos atlânticos<br />
assumissem uma função importante. A tudo isso poderá juntar-se a constante presença de<br />
gentes ribeirinhas do Mediterrâneo, interessadas em estabelecer os produtos e o necessário<br />
suporte financeiro. A constante premência do Mediterrâneo nos primórdios da expansão<br />
atlântica poderá ser responsabilizada pela dominante mercantil das novas experiências de<br />
arroteamento aqui lançadas. Certamente que os povos peninsulares e mediterrânicos, ao<br />
comprometerem-se com o processo atlântico, não puseram de parte a tradição agrícola e os<br />
incentivos comerciais dos mercados de origem. Por isso na bagagem dos primeiros<br />
cabouqueiros insulares foram imprescindíveis as cepas, as socas de cana, alguns grãos do<br />
precioso cereal, de mistura com artefactos e ferramentas. A afirmação das áreas atlânticas<br />
resultou deste transplante material e humana de que os peninsulares foram os principais<br />
obreiros. Foi a primeira experiência de ajustamento das arroteias às directrizes da nova<br />
economia de mercado. A sociedade e economia insulares surgem na confluência dos vectores<br />
externos com as condições internas dos multifacetado mundo insular. A concretização não foi