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As Ilhas e o sistema Atlântico

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considerada a primeira pedra da gesta descobridora dos portugueses no <strong>Atlântico</strong>, é o marco<br />

referencial mais importante desta acção no século XV. De inicial área de ocupação, passou a<br />

um entreposto imprescindível às viagens ao longo da costa africana e, depois, foi modelo para<br />

todo o processo de ocupação atlântica, Por tudo isto a Madeira firmou nome com letras<br />

douradas na História da expansão europeia no <strong>Atlântico</strong>. O Funchal foi, por muito tempo, o<br />

principal ancoradouro do <strong>Atlântico</strong> que abriu as portas do mar oceano e traçou caminho para<br />

as terras do Sul. Aí a abundância do cereal e vinho propiciavam ao navegante o<br />

abastecimento seguro para a demorada viagem. Por isso, o madeirense não foi apenas o<br />

cabouqueiro que transformou o rochedo e fez dele uma magnífica horta, também se afirmou<br />

como o marinheiro, descobridor e comerciante. Deste modo algumas das principais famílias<br />

da Madeira, enriquecidas com a cultura do açúcar, gastaram quase toda a fortuna na gesta<br />

descobridora, ao serviço do infante D. Henrique, ao longo da costa africana ou, de iniciativa<br />

particular, na direcção do Ocidente, correspondendo ao repto lançado pelos textos e lendas<br />

medievais. A juntar a tudo isso temos o rápido progresso social, resultado do porvir<br />

económico, que condicionou o aparecimento de uma aristocracia terra tenente. Esta, imbuída<br />

do ideal cavalheiresco e do espírito de aventura, embrenhou-se na defesa das praças<br />

marroquinas, na disputa pela posse das Canárias e viagens de exploração e comércio ao longo<br />

da costa africana e, até mesmo, para Ocidente.<br />

A valorização da Madeira na expansão europeia tem sido diversa. A historiografia nacional<br />

considera-a um simples episódio de todo o processo e, em face da posição geográfica, hesita<br />

no enquadramento, sendo levada, por vezes ao esquecimento. A europeia, ao invés, não<br />

duvida em realçar a singularidade do processo. Vários são os factores que o propiciaram, no<br />

momento de abertura do mundo atlântico, e que fizeram com que fosse, no século XV, uma<br />

peça chave na afirmação da hegemonia portuguesa no Novo Mundo. O Funchal foi uma<br />

encruzilhada de opções e meios que iam ao encontro da Europa em expansão. Além disso é<br />

considerada a primeira pedra do projecto, que lançou Portugal para os anais da História do<br />

oceano que abraça o litoral abrupto. O fundamento de tudo isto está patente no protagonismo<br />

da ilha e gentes. Á função de porta-estandarte do <strong>Atlântico</strong>, a Madeira associou outras, como<br />

“farol” <strong>Atlântico</strong>, o guia orientador e apoio às delongas incursões oceânicas, sendo um espaço<br />

privilegiado de comunicações, contando a seu favor com as vias traçadas no oceano que a<br />

circunda e as condições económicas internas, propiciadas pelas culturas da cana sacarina e<br />

vinha. Uma e outras condições contribuíram para que o isolamento definido pelo oceano<br />

fosse quebrado e se mantivesse um permanente contacto com o velho continente europeu e o<br />

Novo Mundo.<br />

A mobilidade social é uma das características da sociedade insular. O fenómeno da ocupação<br />

atlântica lançou as bases da sociedade e a emigração ramificou-a e projectou-a além<br />

<strong>Atlântico</strong>. <strong>As</strong> ilhas foram, num primeiro momento, pólos de atracção, passando depois a áreas<br />

de divergência de rotas, gentes e produtos. A novidade, aliada à forma como se processou o<br />

povoamento, activaram o primeiro movimento. A desilusão inicial com as escassas e<br />

limitadas possibilidades económicas e a cobiça por novas e prometedoras terras, definiram o<br />

segundo surto. Primeiro foi a Madeira, depois as ilhas próximas dos Açores e das Canárias e,<br />

finalmente, os novos continentes e demais ilhas. O madeirense, desiludido com a ilha,<br />

procurou melhor fortuna nos Açores ou nas Canárias, e depositou, na costa africana as<br />

prometedoras esperanças comerciais. No grupo incluem-se principalmente os filhos-segundos<br />

deserdados da terra pelo <strong>sistema</strong> sucessório. É disso exemplo Rui Gonçalves da Câmara, filho<br />

do capitão do donatário no Funchal, que preferiu ser capitão da ilha distante de S. Miguel a<br />

manter-se como mero proprietário na Ponta do Sol. Com ele surgiram outros que deram o<br />

arranque decisivo ao povoamento da ilha. A Madeira evidencia-se também no século quinze

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