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O posicionamento periférico do mundo insular condicionou a subjugação do comércio aos<br />
interesses hegemónicos do velho continente. Os europeus foram os cabouqueiros,<br />
responsáveis pela transmigração agrícola, mas também os primeiros a usufruir da qualidade<br />
dos produtos lançados à terra e a desfrutar dos elevados réditos que o comércio propiciou. Daí<br />
resultou a total dependência dos espaços insulares ao velho continente, sendo a vivência<br />
económica moldada de acordo com as necessidades, que, por vezes, se apresentavam<br />
estranhas. Por isso é evidente a preferência pelo velho continente nos contactos com o<br />
exterior dos arquipélagos. Só depois surgiram as ilhas vizinhas e os continentes africano e<br />
americano. Do velho rincão de origem vieram os produtos e instrumentos necessários para a<br />
abertura das arroteias, mas também as directrizes institucionais e comerciais que os<br />
materializaram. O usufruto das possibilidades de um relacionamento com outras áreas<br />
continentais, no caso do Mediterrâneo <strong>Atlântico</strong>, foi consequência de um aproveitamento<br />
vantajoso da posição geográfica e em alguns casos uma tentativa de fuga à omnipresente rota<br />
europeia.<br />
O arquipélago canário, mercê da posição e condições específicas criadas após a conquista, foi<br />
dos três o que tirou maior partido do comércio com o Novo Mundo. A proximidade ao<br />
continente africano, bem como o posicionamento correcto nas rotas atlânticas, permitiram-lhe<br />
a intervir no trato intercontinental. Para os Açores, o facto de as ilhas estarem situadas na<br />
recta final das grandes rotas oceânicas possibilitou-lhes algum proveito com a prestação de<br />
inúmeros serviços de apoio e eventual contrabando. Fora disso encontrava-se a Madeira, a<br />
partir de finais do século XV. Por muito tempo o comércio foi apenas uma miragem e só se<br />
tornou realidade quando o vinho começou a ser o preferido dos que embarcaram na aventura<br />
americana ou índica. Perante isto o vinho madeirense afirmou-se em pleno a partir da segunda<br />
metade do século dezassete. Rumos diferentes tiveram os arquipélagos de S. Tomé e Príncipe<br />
e Cabo Verde: a proximidade da costa africana e a permanente actividade comercial<br />
definiram a vinculação ao continente africano. Por muito tempo os dois arquipélagos pouco<br />
mais foram que portos de ligação entre a América ou a Europa e as feitorias da costa africana.<br />
O comércio das ilhas com o litoral africano, exceptuando o caso de Cabo Verde e S. Tomé,<br />
fazia-se com maior assiduidade a partir das Canárias do que da Madeira ou dos Açores.<br />
Mesmo assim a Madeira, mercê da posição charneira no traçado das rotas quatrocentistas,<br />
teve um papel relevante. Os madeirenses participaram activamente nas viagens de exploração<br />
geográfica e comércio no litoral africano, surgindo o Funchal, nas últimas décadas do século<br />
XV, como um importante entreposto para o comércio de dentes de elefante. Além disso, a<br />
iniciativa madeirense bifurcou-se. Dum lado as praças marroquinas, a quem a ilha forneceu os<br />
homens para a defesa, os materiais para a construção das fortalezas e cereais para sustento<br />
dos homens aí aquartelados. Do outro a área dos Rios e Golfo da Guiné abastecia-se de<br />
escravos, necessários para assegurar a força de trabalho na safra do açúcar.<br />
Ao invés do que sucedia com as Canárias, Cabo Verde e S. Tomé, as ilhas dos arquipélagos<br />
da Madeira e Açores estiveram até ao século dezassete afastadas do comércio com o<br />
continente americano. Restava-lhes aguardar pela chegada das embarcações daí oriundas e<br />
aspirar pelo contrabando ou trocas ocasionais. Ao porto do Funchal chegaram algumas<br />
embarcações desgarradas. O desvio era considerado pela coroa como intencional, para aí se<br />
fazer o contrabando, pelo que foram determinadas medidas proibitivas, de pouca aplicação<br />
prática.<br />
<strong>As</strong> ilhas de Santiago e S. Tomé, mercê da proximidade da costa africana, afirmaram-se como