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As Ilhas e o sistema Atlântico

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surgisse no século XV como um dos principais eixos do domínio e navegação portuguesa no<br />

<strong>Atlântico</strong>. Tal como nos refere Zurara a ilha foi desde 1445 o principal porto de escala para as<br />

navegações ao longo da costa africana. Mas o maior conhecimento dos mares, os avanços<br />

tecnológicos e náuticos retirou ao Funchal a posição charneira nas navegações atlânticas,<br />

sendo substituído pelos portos das Canárias ou Cabo Verde. Já a partir de princípios do<br />

século XVI a Madeira surgirá apenas como um ponto de referência para a navegação<br />

atlântica, uma escala ocasional para reparo e aprovisionamento de vinho. Apenas o surto<br />

económico da ilha conseguirá atrair as atenções das armadas, navegantes e aventureiros. Em<br />

síntese, as ilhas são as portas de entrada e saída e por isso mesmo assumiram um papel<br />

importante nas rotas atlânticas. Mas para sulcar longas distâncias rumo ao Brasil, à costa<br />

africana ou ao Indico, era necessário dispor de mais portos de escala, pois a viagem era longa<br />

e difícil.<br />

<strong>As</strong> áreas comerciais da costa da Guiné e, depois, com a ultrapassagem do cabo da Boa<br />

Esperança, as indicas tornaram indispensável a existência de escalas intermédias. Primeiro<br />

Arguim que serviu de feitoria e escala para a zona da Costa da Guiné, depois, com a<br />

revelação de Cabo Verde, foi a ilha de Santiago que se afirmou como a principal escala da<br />

rota de ida para os portugueses e podia muito bem substituir as Canárias ou a Madeira, o que<br />

realmente aconteceu. Outras mais ilhas foram reveladas e tiveram um lugar proeminente no<br />

traçado das rotas. É o caso de S. Tomé para a área de navegação do golfo da Guiné e de Santa<br />

Helena para as caravelas da rota do Cabo. Também a projecção dos arquipélagos de S. Tomé<br />

e Cabo Verde sobre os espaços vizinhas da costa africana levou a coroa a criar duas feitorias<br />

(Santiago e S. Tomé) como objectivo de controlar, a partir daí, todas as transacções<br />

comerciais da costa africana. No <strong>Atlântico</strong> sul as principais escalas das rotas do Índico<br />

assentavam nos portos das ilhas de Santiago, Santa Helena e <strong>As</strong>censão. Aí as armadas<br />

reabasteciam-se de água, lenha, mantimentos ou procediam a ligeiras reparações. A par disso<br />

releva-se, ainda, a de Santa Helena como escala de reagrupamento das frotas vindas da Índia<br />

depois de ultrapassado o cabo, isto é, missão idêntica à dos Açores no final da travessia<br />

oceânica. Esta função da ilha de Santiago com escala do mar oceano foi efémera. A partir da<br />

década de trinta do século XVI as escalas são menos assíduas. O mar era já conhecido e as<br />

embarcações de maior calado permitiam viagens mais prolongadas. Apenas os náufragos dos<br />

temporais aí aparecem à procura de refúgio.<br />

O posicionamento das ilhas no traçado das rotas de comércio e navegação atlântica fez com<br />

que as coroas peninsulares dirigissem para aí todo o empenho nas iniciativas de apoio, defesa<br />

e controlo do trato comercial. <strong>As</strong> ilhas foram, assim, os bastiões avançados, suportes e<br />

símbolos da hegemonia peninsular no <strong>Atlântico</strong>. A disputa pelas riquezas em circulação tinha<br />

lugar em terra ou no mar circunvizinho, pois para aí incidiam os piratas e corsários, ávidos de<br />

conseguir ainda que uma magra fatia do tesouro. Uma das maiores preocupações das<br />

autoridades terá sido a defesa dos navios. Mas no caso das ilhas da Guiné isso nunca foi<br />

conseguido, tardando, ao contrário do que sucedeu na Madeira, Açores e Canárias, o<br />

delineamento de um <strong>sistema</strong> defensivo em terra e no mar. Isto explica a extrema<br />

vulnerabilidade dos portos, evidente nas inúmeras investidas inglesas e holandesas na<br />

primeira metade do século XVII.<br />

O século é marcado por uma mudança total no <strong>sistema</strong> de rotas do <strong>Atlântico</strong>. Os progressos<br />

no desenvolvimento da máquina a vapor fizeram com que se elaborasse um novo plano de<br />

portos de escala, capazes de servirem de apoio à navegação como fornecedores dos produtos<br />

em troca e do carvão para a laboração das máquinas. Nos Açores o porto de Angra cedeu o<br />

lugar aos da Horta e Ponta Delgada, enquanto em Cabo Verde a ilha de Santiago foi

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