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O APELO DO MAR E DO OCIDENTE. A tradição refere que o primeiro homem a lançar-se<br />
à aventura do descobrimento das terras ocidentais foi Diogo de Teive, que em 1451 terá saído<br />
do Faial à procura da ilha das Sete Cidades, mas que no regresso apenas descobriu as de<br />
Flores e Corvo. Outros madeirenses seguiram o exemplo, gastando muita fazenda para abrir o<br />
caminho, mais tarde, trilhado por Colombo. A ilha estava em condições de propiciar ao<br />
navegador as informações consideradas imprescindíveis ao descobrimento das terras<br />
ocidentais. Note-se que o apelo do Ocidente é consequência lógica do reconhecimento dos<br />
Açores, ocorrido a partir de 1427, todavia as ilhas mais ocidentais (Flores e Corvo) só em<br />
1452 foram pisadas por marinheiros portugueses. A entrada no domínio lusíada deu-se por<br />
mãos de Pedro Vasquez de la Frontera e Diogo de Teive em 1452, no regresso de uma das<br />
viagens para o Ocidente à procura das ilhas míticas.<br />
<strong>As</strong> ilhas açorianas, por serem as mais ocidentais sob domínio europeu até à viagem de<br />
Colombo, foram o paradeiro ideal para os aventureiros interessados em embrenhar-se na gesta<br />
descobridora dos mares ocidentais. Desde meados do século XV, madeirenses e açorianos<br />
saem, com assídua frequência, à busca de novas terras assegurando, antecipadamente, a posse<br />
do que descobrissem por carta régia 28 . É de notar que este interesse dos insulares pela<br />
descoberta das terras ocidentais é muito anterior a Colombo e persistiu após 1492. A primeira<br />
carta conhecida é de 19 de Fevereiro de 1462, sendo a posse das novas ilhas Lovo e Capraria<br />
e outras que iria descobrir, dadas ao João Vogado. Ainda antes de 1492 temos outras<br />
concessões a Rui Gonçalves da Câmara (21 de Junho de 1473), Fernão Teles (28 de Janeiro<br />
de 1474), Fernão Dulmo e João Afonso do Estreito (24 de Julho de 1486). Após a primeira<br />
viagem de Colombo não esmoreceu o interesse dos insulares por tais viagens. A atestá-lo<br />
estão as cartas concedidas a Gaspar Corte Real (12 de Maio de 1500), João Martins (27 de<br />
Janeiro de 1501) e Miguel Corte Real (15 de Janeiro de 1502).<br />
O Ocidente exerceu sobre os ilhéus, madeirenses e açorianos, um fascínio especial,<br />
acalentado, ademais, pelas lendas recuperadas da tradição medieval. Por isso mesmo, desde<br />
meados do século XV, eles entusiasmaram-se com a revelação das ilhas ocidentais - Antília,<br />
S. Brandão, Brasil. No extenso rol de navegadores anónimos que deram a vida por esta<br />
descoberta, permitam-nos que referencie os madeirenses Diogo de Teive, João Afonso do<br />
Estreito, Afonso e Fernão Domingues do Arco. A. Ballesteros 29 identifica o último como o<br />
piloto anónimo que em 1484 veio a Lisboa pedir ao rei uma caravela para, segundo Fernando<br />
Colombo, "ir a esta tierra que via." A estas iniciativas isoladas acresce a tradição literária e<br />
os dados materiais visíveis nas plagas insulares. A literatura fantástica, a cartografia mítica o<br />
aparecimento de destroços de madeira e troncos de árvores nas costas das ilhas açorianas<br />
acalentavam a esperança da existência de terras a ocidente. Nas costas das ilhas açorianas do<br />
Faial e Graciosa encalhavam alguns pinheiros, enquanto nas Flores davam à costa dois<br />
cadáveres com feições diferentes das dos cristãos e dos negros. Tudo isto levantava o fervor<br />
dos aventureiros que com assiduidade se viam perante ilhas que nunca existiram. A "décima<br />
ilha", por exemplo, nunca passou de uma miragem.<br />
A curta permanência de Colombo no Porto Santo e, depois, na Madeira possibilitou-lhe um<br />
conhecimento das técnicas de navegação usada pelos portugueses e abriu-lhe as portas aos<br />
segredos, guardados na memória dos marinheiros, sobre a existência de terra a Ocidente.<br />
28 Manuel Monteiro Velho ARRUDA (Colecção de documentos relativos ao descobrimento e povoamento dos Açores, Ponta Delgada,<br />
1977) refere as cartas atribuídas a João Vogado(19 de Fevereiro de 1462), Gonçalo Fernandes(29 de Outubro de 1462), Rui Gonçalves da<br />
Camara (21 de Janeiro de 1473), Fernão Teles(28 de Junho de 1474 e 10 de Novembro de 1475), Fernão Dulmo e João Afonso do Estreito<br />
(24 de Julho e 4 de Agosto de 1486).<br />
29 Cristóbal Colón y el descubrimiento de América , 2 vols, Barcelona, 1945.