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As Ilhas e o sistema Atlântico

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papel, e terá chegado à Europa a partir de meados do século XV 137 . David Ferreira<br />

Gouveia138 apresenta esta evolução como resultado do invento do madeirense Diogo de<br />

Teive, patenteado em 1452. Outros apontam para a origem chinesa. O engenho de três eixos<br />

surge mais tarde no Brasil sendo considerado também uma invenção portuguesa,<br />

inegavelmente ligada aos madeirenses aí radicados. A primeira referência aos eixos para o<br />

engenho data já do último quartel do século XV. Entretanto em 1477 Álvaro Lopes tem<br />

autorização do capitão do Funchal para que "faça hum enjenho de fazer açúcar que seja de<br />

moo ou d'alçapremas, ou doutra arte...o qual enjenho será d'augoa com sua casa e casa de<br />

caldeiras..." 139 . Depois, em 1485, D. Manuel isentava da dizima "quaesquer teyxos que forem<br />

necesarios para eyxos esteos cassas latadas dos enjenhos e tapumes..." 140 . Em 1505<br />

Valentim Fernandes refere que o pau branco era usado no fabrico de "eixos e prafusos pera<br />

osenjenhos de açúcar" 141 . A isto associa-se o inventário do engenho de António Teixeira, no<br />

Porto da Cruz em que são referidos como aprestos: rodas eixos, prensas, fornalhas espeques<br />

(...) 142 . Também noutro documento de 1546 refere-se a existência deste tipo de engenho nas<br />

fazendas de Manuel damil em Câmara de Lobos, foreiras ao convento de Santa Clara, pois o<br />

mesmo declara que “aquelle anno mandou fazer a roda nova por ser velha a que estava e não<br />

aproveitar para servir e os eixos servirem hum anno...” 143 Por fim tenha-se em conta que os<br />

primeiros engenhos construídos no Brasil, mais propriamente em S. Vicente, são de eixos e<br />

que estes foram feitos por destros carpinteiros madeirenses que acompanharam o governador<br />

Mem de Sá 144 .<br />

A tudo isto deverá juntar-se o facto de que foi a partir da Madeira que se generalizou o<br />

consumo do açúcar, sendo necessário para isso uma produção em larga escala. A pressão do<br />

mercado europeu conduziu a uma rápida afirmação da cultura na segunda metade do século<br />

XVI, situação que só seria possível de alimentar com o recurso a inovações tecnológicas<br />

capazes de atenderem a tais solicitações. Note-se que a evolução para o <strong>sistema</strong> de cilindros<br />

não reverte no melhor aproveitamento do suco da cana, mas sim vantagens acrescentadas para<br />

a rapidez no processo de esmagamento. A situação que se vive na Madeira a partir de meados<br />

do século XV é de incremento da cultura que se alia a inovações tecnológicas, que certamente<br />

o engenho de Diogo de Teive foi o primeiro exemplo. Se as referências forem indício dos<br />

engenhos de cilindros quer dizer que é na Madeira que encontrámos a mais antiga referência<br />

desta tecnologia no espaço atlântico e será a partir da Madeira que a mesma se difundiu. Os<br />

madeirenses estiveram ligados à promoção da cultura e construção dos primeiros engenhos<br />

açucareiros nas ilhas Canárias, dos Açores, S. Tomé, e Brasil, chegando mesmo ao norte de<br />

África, situação que foi interditada pela coroa em 1537 145 . Por outro lado a sua origem não<br />

poderá associar-se a uma influência directa da Índia ou da China, onde estiveram muitos<br />

madeirenses, uma vez que as primeiras referências são anteriores à primeira viagem de Vasco<br />

da Gama. Perante tantas evidências não é possível afirmar com toda a certeza que a expansão<br />

137<br />

Cf. DANIELS, John e Christian Daniels, the origin of the sugar cane Roller mill, Tecnology and Culture; 1988, 29.3, pp. 493-535,<br />

SABBAN, François, l’industrie sucrire, le moulin a sucre et les relations Sino-Portugaises aux XVIe-XVIIIe sicles, Annales, 49.4<br />

(1994), 817-861, Idem, Continuité et rupture Histoire des Techniques sucrires en Chine Ancienne, Actas del Tercer Seminario<br />

Internacional. Producción y Comercio del Azúcar de caa en Época Preindustrial, Granada, 1993, 247-265, J. H. Galloway, The<br />

Technological Revolution in the Sugar Cane Industry During the Seventeenth century, ibidem, pp.211-228.<br />

138<br />

GOUVEIA, David Ferreira, O Açúcar da Madeira. A manufactura açucareira madeirense (1420-1550), in <strong>Atlântico</strong>, IV, 1985, 260-272<br />

139<br />

ANTT, Convento de Santa Clara, maço 13, nº 1, 4 Julho 1477.<br />

140<br />

AHM, Vol. XV, p. 150, Apontamentos de D. Manuel de 22 de Fevereiro<br />

141<br />

António BAIÃO,O manuscrito de Valentim Fernandes, Lisboa, 1940, p. 112.<br />

142<br />

A. ARTUR, "Apontamentos históricos de Machico", in DAHM, nº 1, pp. 8_9. A dúvida está na data a atribuir ao inventário, que está<br />

anexo ao seu testamento de 7 de Setembro de 1535, ou de 13 de Setembro de 1495, data do testamento de Isabel de Vasconcelos sua<br />

esposa.<br />

143 ANTT, convento de Santa Clara, nº.12, 21 de Janeiro de 1546.<br />

144 Eddi Stols, um dos primeiros documentos sobre o engenho Shetz, em São Vicente, Revista de História,1968<br />

145 . ARM., RGCMF, t. I, fl. 372v, publ. in Arquivo Histórico da Madeira, vol. XIX(1990)pp.79-80.

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