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As Ilhas e o sistema Atlântico

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orientadores da Engenharia Militar. Isto não tem paralelo nas ilhas de Cabo Verde, onde as<br />

dificuldades económicas com que as populações se deparavam inviabilizaram tais medidas,<br />

não obstante o interesse demonstrado por alguns governadores.<br />

Em todos os momentos a Madeira funcionou como base para as inúmeras incursões dos<br />

corsários ingleses. A neutralidade, insistentemente proclamada no papel não passava disso,<br />

pois os ingleses afrontaram por diversas formas a atitude do governador 223 . Desde a guerra de<br />

sucessão da Casa de Áustria que a Madeira teve esta vocação. Aí estacionaram alguns navios<br />

corsários como sucedeu com a balandra do capitão Filipe Maré e o corsário rei Jorge. Da<br />

resposta castelhana temos a presença do bergantim Santelmo Nossa Senhora Candelária, sob<br />

o comando do capitão Pascoal de Sousa Viúvo, possuidor desde 1739 de carta de corso 224 .<br />

Todavia não foi feliz nas suas presas. Em 14 de Abril de 1748 apresou junto ao Cabo Girão,<br />

uma balandra inglesa que ao pretender vender o recheio viu embargado pelo bispo<br />

governador a favor dos ingleses. Depois tomou uma escuna inglesa na Ponta do Sol, mas<br />

acabou apresada pela nau inglesa Chesterfield, sendo arrematada pela alfândega do<br />

Funchal 225 . Mais tarde em 1762 recomenda-se ao Governador José Correia de Sá para manter<br />

uma posição neutral em face dos acontecimentos, mas que exerça represália sobre os navios<br />

espanhóis e franceses, o que ia de encontro às pretensões inglesas. 226 Mesmo assim os<br />

ingleses não aceitaram este pacto de vizinhança, atacando os navios costeiros ou de pescarias,<br />

como sucedeu em 1780. 227 E a situação continuou nos anos subsequentes, afirmando-se a<br />

Madeira como base para as incursões inglesas contra os navios castelhanos e franceses. O<br />

facto da ilha estar sob as ordens de Sua Majestade, entre 1801-1802 e 1807-1814, favoreceu<br />

isso. <strong>As</strong>sim tivemos duas presas francesas e 21 castelhanas. 228 Por seu turno os franceses<br />

faziam incidir mais a sua acção sobre as embarcações portuguesas, porque menos seguras e<br />

protegidas, do que as inglesas. Esta permanente ameaça da esquadra de Brest sobre o Funchal<br />

justificava-se mais pelo colaboracionismo madeirense aos ingleses do que pela guerra<br />

declarada entre as coroas peninsulares. Os dados que documentam esta preocupante presença<br />

são elucidativos. Em 1785 229 é uma esquadra de 12 embarcações sob o comando do general Le<br />

Comte d'Albert Derions. Depois a partir de 1718 instalou-se o pânico com os franceses a<br />

estabelecerem um bloqueio à ilha, o que lesou o comércio externo. 230 Nos Açores o corso<br />

teve maior incidência nos primeiros anos do século XIX. Os protagonistas europeus são<br />

ingleses e castelhanos. 231 Todavia é entre os originários do continente americano que temos<br />

as acções mais violentas. A intervenção dos corsários americanos é uma forma de reclamar o<br />

direito à independência. <strong>As</strong> acções são lançadas contra as embarcações da metrópole e<br />

aliados, o que vem a atingir os portugueses. A isto acresce a guerra entre ingleses e norteamericanos<br />

no período de 1812 a 1815 que provocou um aumento desmesurado do número de<br />

corsários. Com as pazes muitos deles passaram-se para o serviço dos insurgentes. 232<br />

<strong>As</strong> transformações político-ideológicas porque passaram os continentes americano e europeu<br />

fizeram do <strong>Atlântico</strong> o espaço privilegiado de embate, sendo o corso o meio usado. O oceano<br />

223 Em 1780 o Governador João Gonçalves da Câmara participa a Martinho de Mello e Castro a presença de uma esquadra inglesa no<br />

Funchal, pedindo instruções para manter absoluta neutralidade Ibidem, nº.545, 22 de Janeiro).<br />

224 A.N.T.T.,P.J.R.F.F.,nº972, fls.233-235vº, 24 de Novembro.<br />

225 A.N.T.T., P.J.R.F.F., nº 109, fls. 79, 82, 83vº; A.F., nº 970, fls. 16vº-17.<br />

226 A.N.T.T., P.J.R.F.F., nº 985, fls. 16vº-19.<br />

227 A.N.T.T., P.J.R.F.F., nº 985, fls. 16vº-19.<br />

228 Ibidem, nº 1556-60, 1584, 1589, 1594.<br />

229 Ibidem, nº760-761.<br />

230 A.H.U, Madeira e Porto Santo, nº 1019 e 1126; veja-se também A.H.U, Madeira e Porto Santo, nº 1476.<br />

231 A.H.U, Açores, Maço 11.<br />

232 José Calvet de Magalhães, História das relações diplomáticas entre Portugal e os Estados Unidos de América, Lisboa, 1991, p.92.

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