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As Ilhas e o sistema Atlântico

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A Madeira, os Açores foram terras descobertas, mas também de descobridores. Na verdade,<br />

afirmaram-se no processo da expansão europeia pela singularidade da intervenção. Vários são<br />

os factores que o propiciaram, no momento de abertura do mundo atlântico, e que fizeram<br />

com que ela fosse, no século XV, uma das peças chave para a afirmação da hegemonia<br />

portuguesa no Novo Mundo. O Funchal foi uma encruzilhada de opções e meios que iam ao<br />

encontro da Europa em expansão. Além disso ela é considerada a primeira pedra do projecto,<br />

que lançou Portugal para os anais da História do oceano que abraça o seu litoral abrupto. A<br />

fundamentação de tudo isto está patente no real protagonismo da ilha e das suas gentes. Á<br />

função de porta-estandarte do <strong>Atlântico</strong>, a Madeira associou outras, como “farol” <strong>Atlântico</strong>, o<br />

guia orientador e apoio para as delongas incursões oceânicas. Por isso nos séculos que nos<br />

antecederam, ela foi um espaço privilegiado de comunicações, tendo a favor as vias traçadas<br />

no oceano que a circunda e as condições económicas internas, propiciadas pelas culturas da<br />

cana sacarina e vinha. Ambas as condições contribuíram para que o isolamento definido pelo<br />

oceano fosse quebrado e se mantivesse um permanente contacto com o velho continente<br />

europeu e o Novo Mundo. Como corolário desta ambiência a Madeira firmou uma posição de<br />

relevo nas navegações e descobrimentos no <strong>Atlântico</strong>.<br />

O desenvolvimento da economia de mercado, em uníssono com o empenhamento dos<br />

principais povoadores em dar continuidade à gesta de reconhecimento do <strong>Atlântico</strong>,<br />

reforçaram a posição e fizeram avolumar os serviços prestados pelos madeirenses. Surgiu<br />

uma nova aristocracia dos descobrimentos, cumulada de títulos e benesses pelos serviços<br />

prestados no reconhecimento da costa africana, defesa das praças marroquinas, ou nas<br />

campanhas brasileiras e Indicas 26 . A proximidade da Madeira ao vizinho arquipélago das<br />

Canárias, em conjugação com o rápido surto do povoamento e valorização sócio-económica<br />

do solo, orientaram as atenções do madeirense para as ilhas. <strong>As</strong>sim, decorridos apenas vinte e<br />

seis anos sob a ocupação, os moradores da Madeira empenharam-se na disputa pela posse das<br />

Canárias, ao serviço do infante D. Henrique. Em 1446 João Gonçalves Zarco, foi enviado a<br />

Lanzarote, como plenipotenciário para afirmar o contrato de compra da ilha. Acompanhamno<br />

as caravelas de Tristão Vaz, capitão do donatário em Machico e de Garcia Homem de<br />

Sousa, genro de Zarco 27 . Mais tarde em 1451, o infante enviou nova armada, em que<br />

participaram gentes de Lagos, Lisboa e Madeira, sendo de salientar, no último caso, Rui<br />

Gonçalves filho do capitão do donatário do Funchal.<br />

Para as aristocracias madeirense e açoriana o empenhamento nas acções marítimas e bélicas<br />

é, ao mesmo tempo, uma forma de homenagem ao senhor (monarca, donatário) e de aquisição<br />

de benesses e comendas. Zurara na «Crónica da Guiné» confirma isso, referindo que a<br />

participação madeirense ia ao encontro dos princípios e tradições da cavalaria do reino. O que<br />

não invalida a sua presença com outros objectivos, como sucede a partir de meados do século<br />

XV. Os principais obreiros do reconhecimento e ocupação da Madeira, como criados da casa<br />

do infante D. Henrique, foram impelidos para a aventura africana, com participação activa<br />

nas viagens henriquinas de 1445 e 1460 e nas aventuras bélicas nas praças africanas do norte,<br />

nos séculos XV e XVI. A presença de gentes continuará por todo o século XV em três frentes:<br />

Marrocos, litoral africano além do Bojador e terras ocidentais. Na primeira e última a<br />

presença dos madeirenses foi fundamental.<br />

26 Confronte-se João José Abreu de SOUSA, "Emigração madeirense nos séculos XV a XVII", in <strong>Atlântico</strong>, nª.1, Funchal, 1985, pp. 46-52.<br />

27 José PEREZ VIDAL, «Aportación portuguesa a la población de Canarias. Datos», in Anuario de Estudios <strong>Atlântico</strong>s , nº 14, 1968; A.<br />

SARMENTO, «Madeira & Canárias», in Fasquias e Ripas da Madeira, Funchal, 1931, 13-14.

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