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expandiram às demais ilhas. Também temos notícia da presença sem sucesso em Cabo Verde.<br />
<strong>As</strong> mesmas cepas chegaram ao Brasil a partir da década de trinta do século XVI por mãos<br />
madeirenses, não obstante a actual produção vinícola ser resultado da emigração italiana a<br />
partir do século XIX.<br />
A evolução da safra vitivinícola madeirense dos séculos quinze e dezasseis só pode ser<br />
conhecida através do testemunho de visitantes estrangeiros, uma vez que é escassa a<br />
informação nas fontes diplomáticas. A documentação e os visitantes, entre os sécs.<br />
XVIII/XIX, foram unânimes em considerar o vinho como a principal e total riqueza da ilha, a<br />
única moeda de troca. A Madeira não tinha com que acenar aos navios que por aí passavam,<br />
ou a demandavam, senão o copo de vinho. Tudo isto fez aumentar a dependência da<br />
economia madeirense.<br />
Desde o século XVII o ilhéu traçou a rota no mercado internacional, acompanhando o<br />
colonialista nas expedições e fixação na Ásia e América. O comerciante inglês, aqui<br />
implantado desde o séc. XVII, soube tirar partido do produto fazendo-o chegar em<br />
quantidades volumosas às mãos dos compatriotas que se haviam espalhado pelos quatro<br />
cantos do mundo colonial europeu. O movimento do comércio do vinho da Madeira ao longo<br />
dos sécs. XVIII e XIX imbrica-se de modo directo no traçado das rotas marítimas coloniais<br />
que tinham passagem obrigatória na ilha. A estas juntavam-se outras subsidiárias, quase todas<br />
sob controlo inglês: são as rotas da Inglaterra colonial que fazem do Funchal porto de refresco<br />
e carga de vinho no rumo aos mercados das Índias Ocidentais e Orientais, donde regressavam,<br />
via Açores, com o recheio colonial; são os navios portugueses da rota das Índias, ou do Brasil<br />
que escalam a ilha onde recebem o vinho que conduzem às praças lusas; são, ainda, os navios<br />
ingleses que se dirigem à Madeira com manufacturas e fazem o retorno tocando Gibraltar,<br />
Lisboa, Porto; e, finalmente, os norte-americanos que trazem as farinhas para madeirense e<br />
regressam carregados de vinho. Por isto o vinho ilhéu conquistou, desde o séc. XVI, o<br />
mercado colonial em África, Ásia e América afirmando-se até meados do séc. XIX como a<br />
bebida por excelência do colonialista e das tropas coloniais em acção. Regressado o<br />
colonialista à terra de origem, depois do surto do movimento independentista, trouxe na<br />
bagagem o vinho da ilha e fá-lo apreciar pelos patrícios. Aqui releva-se a posição do mercado<br />
americano, dominado pelas colónias das Índias Ocidentais e portos norte-americanos. O<br />
último destino sedimentou-se, a partir da segunda metade do século XVII, mercê de um<br />
activo relacionamento. Desde então o vinho da Madeira foi uma presença assídua nos portos<br />
atlânticos - Boston, Charleston, N. York e Filadélfia, Baltimore, Virgínia - onde era trocado<br />
por farinhas 115 . Esta contrapartida reforçou o relacionamento comercial e actuou como<br />
circunstância favorecedora do progresso da economia vitivinícola. <strong>As</strong>sim, se nos séculos XV<br />
e XVI a afirmação da cultura dos canaviais foi conseguida com o suprimento de cereais dos<br />
Açores e Canárias, a partir de finais do século XVII é na América do Norte que se situa o<br />
celeiro madeirense. Cedo a Madeira entrou na esfera dos interesses norte-americanos, sendo o<br />
vinho o cartão de visita.<br />
Nos demais arquipélagos foi apenas nas Canárias e Açores que a cultura da vinha e o<br />
comércio do vinho atingiram posição similar à Madeira 116 . Os mercados foram os mesmos<br />
sendo disputados com extrema concorrência. Note-se que estas, entenda-se os arquipélagos<br />
115 Cf. Jorge Martins RIBEIRO, "Alguns aspectos do comércio da Madeira com a América na segunda metade XVIII", in Actas III<br />
Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1993, pp.389-401.<br />
116 António Béthencourt Massieu, Canarias e Inglaterra el Comercio de Vinos(1650-1800), Las Palmas, 1991;Manuel Lobo Cabrera, El<br />
Comercio del Vino entre Gran Cnaria y las Indias en el Siglo XVI, Las Palmas,,1993; Agustín Guimerá Ravina, Burguesia Extranjera y<br />
Comercio Atlantico, La Empresa Comercial Irlandesa en Canarias(1703 -1771), Madrid, 1985.