foi assim a via de mútua troca de ideias, mas também o palco de debate e defesa. E as ilhas jogaram um papel fundamental. Os três arquipélagos do Mediterrâneo atlântico (Madeira, Açores e Canárias) foram, mais uma vez, a área charneira para a expressão disso. Os contactos preferenciais com o continente americano, a assídua presença de gentes (mercadores ou corsários) destas paragens, foram um poderoso veículo de expansão do novo ideário político saído da declaração da independência dos E.U.A.(1776). O facto marca um novo momento da vida do até então conhecido como Novo Mundo e do oceano que o separa do Velho Mundo, 233 e também uma nova função para a guerra de corso. Por iniciativa dos norte-americanos o corso é utilizado como arma de afrontamento à metrópole e de afirmação do ideário de independência das colónias. A ideia contagiou também as colónias espanholas (Argentina, Bolívia, Colômbia e Peru) e portuguesas (o Brasil). 234 No caso das Canárias eles chegaram mesmo a incitar os moradores de Tenerife a sublevarem-se contra a metrópole. 235 Ambas as situações surgem como corolário da Revolução liberal (em Espanha no ano de 1808 e em Portugal no de 1820). No primeiro caso, de acordo com a aceitação ou reprovação da Junta Central, tivemos as colónias leais e as insurgentes. É no seio das últimas que surgirão, com o patrocínio dos norte-americanos os corsários insurgentes. Note-se que estes arvoravam habitualmente a bandeira dos E.U.A., sendo a tripulação das embarcações composta por marinheiros de diversas proveniências, onde pontuavam, mais uma vez, os norte-americanos. 236 CONCLUSÃO Hoje parece que as ilhas retomaram o deslumbramento do passado. Esgotados os recursos económicos resta-lhes apenas aquilo que as diferencia dos espaços continentais e que está na origem do nome dado na Antiguidade Clássica. <strong>As</strong> Afortunadas continuam ainda como o paraíso atlântico que continua a atrair o europeu. E no milénio que agora começou não está provado que percam o protagonismo que as marcou no passado. O europeu continuará a fazer depender destes pilares erguidos no atlântico para sedimentar protagonismos. Ontem como hoje, as ilhas não se fizeram rogadas aos desafios do devir histórico. Nos últimos cinco séculos às ilhas foram atribuídos diversos papéis. De espaços económicos rapidamente avançaram para faróis do <strong>Atlântico</strong> que acompanhavam as inúmeras embarcações que sulcavam o vasto oceano atlântico. <strong>As</strong> ilhas foram escalas imprescindíveis para abastecimento de víveres frescos, água e carvão, mas paulatinamente se transformaram em espaços aprazíveis, primeiro para a cura da tísica pulmonar e depois repouso e deleite de aristocratas e aventureiros. O turismo é hoje a evidência, mas convém referir que foi nas ilhas atlânticas e, de forma especial na Madeira, que a actual indústria do lazer deu os primeiros passos. 233 Confronte-se François-Xavier GUERRA, Modernidad e Independencias, Madrid, 19 92; Merle E. SIMMONS, La Revolucion Norte- Americana en la Independencia de Hispano-America, Madrid, 1992; Eric BEERMAN, España y la Independencia de Estados Unidos, Madrid, 1992; Carlos MELÉNDEZ, La Independencia de Centro América, Madrid, 1993. 234 Para o período das hostilidades, que decorre de 1822 até à assinatura do tratado de 29 de Agosto de 1823 conhece-se apenas uma presa nos Açores em 1823 (AHU, Açores, maço 83, 23 de Setembro). 235 Manuel PAZ, art. cit., p. 686. 236 A.H.U., Açores, maço 69, 24 e Dezembro 1816, 14 de Fevereiro, 27 Março, 29 de Abril, 27 de Maio, 20 de Junho, e 12 de Dezembro de 1816.
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