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identifica para a Madeira as quintas do Palheiro Ferreiro e Magnólia como jardins botânicos.<br />
São viveiros de plantas, hospital para acolher os doentes da tísica pulmonar e outros<br />
visitantes. O deslumbramento acompanhou o interesse científico e os dois conviveram lado a<br />
lado nas inúmeras publicações que o testemunham no século XIX. Os jardins, através da<br />
harmonia arvoredo e das garridas cores das flores tiveram nos séculos XVII e XVIII um<br />
avanço evidente. Os bosques deixaram de ser espaços de maldição e as árvores entraram no<br />
quotidiano das classes altas. Os jardins adquiriram a dimensão de paraíso bíblico e como tal<br />
de espaço espiritual. Eles são a expressão do domínio humano sobre a Natureza 182 . A<br />
Inglaterra do século XIX popularizou os jardins e as flores 183 . A ambiência chegou à ilha<br />
através dos mesmos súbditos de Sua Majestade. <strong>As</strong> ilhas exerceram um fascínio especial em<br />
todos os visitantes e parece que nunca perderam a imortal característica de jardins à beira do<br />
oceano. Poderemos afirmar que as ilhas foram jardins e que os jardins continuam a ser o<br />
encanto dos que a procuram, sejam turistas ou cientistas.<br />
No século XVIII as ilhas assumiram um novo papel no mundo europeu. <strong>As</strong>sim, de espaços<br />
económicos passaram também a contribuir para alívio e cura de doenças. O mundo rural<br />
perde importância em favor da área em torno do Funchal, que se transforma num hospital<br />
para a cura da tísica pulmonar ou de quarentena na passagem do calor tórrido das colónias<br />
para os dias frios e nebulosos da vetusta cidade de Londres. A função catapultou as ilhas da<br />
Madeira e Canárias para uma afirmação evidente. O debate das potencialidades terapêuticas<br />
da climatologia propiciou um grupo numeroso de estudos e gerou uma escala frequente de<br />
estudiosos 184 . <strong>As</strong> estâncias de cura surgiram primeiro na bacia mediterrânica europeia e<br />
depois expandiram-se no século XVIII até à Madeira e só na centúria seguinte chegaram às<br />
Canárias 185 . Dos visitantes das ilhas merecem especial atenção três grupos distintos: invalids<br />
(=doentes), viajantes, turistas e cientistas. Enquanto os primeiros fugiam ao Inverno europeu<br />
e encontravam na temperatura amena das ilhas o alívio das maleitas, os demais vinham<br />
atraídos pelo gosto de aventura, de novas emoções, da procura do pitoresco e do<br />
conhecimento e descobrimento dos infindáveis segredos do mundo natural. O viajante<br />
diferencia-se do turista pelo aparato e intenções que o perseguem. Ele é um andarilho que<br />
percorre todos os recantos das ilhas na ânsia de descobrir os aspectos mais pitorescos. Na<br />
bagagem constava sempre um caderno de notas e um lápis. Através da escrita e desenho ele<br />
regista as impressões do que vê. Daqui resultou uma prolixa literatura de viagens, que se<br />
tornou numa fonte fundamental para o conhecimento da sociedade oitocentista das ilhas. Ao<br />
historiador está atribuída a tarefa de interpretar estas impressões 186 . Aqui são merecedoras de<br />
destaque duas mulheres: Isabella de França 187 para a Madeira e Olívia Stone 188 para as<br />
Canárias. O turista ao invés é pouco andarilho, preferindo a bonomia das quintas, e egoísta<br />
guardando para si todas as impressões da viagem. O testemunho da presença é documentado<br />
apenas pelos registos de entrada dos vapores na alfândega, das notícias dos jornais diárias e<br />
dos "títulos de residência" 189 , pois o mais transformou-se em pó.<br />
182<br />
. Peter J. Bowler, Fontana History of environmental Sciences. N. Y., 1993.,p.111.<br />
183<br />
. Cf. K. Thomas,ibidem, pp.207-209, 210-260<br />
184<br />
. James Clark, The Sanative Influence of Climate, Londres, 1840; W. Huggard, A Handbook of Climatic Treatment, Londres, 1906; Nicolás González Lemus, Las<br />
Islas de la Ilusión. Británicos en Tenerife 1850-1900, Las Palmas, 1995; Zerolo, Tomás, Climatoterapia de la Tuberculosis Pulmonar en la Península Española, Islas<br />
Baleares Y Canarias, Santa Cruz de Tenerife, 1889. O debate sobre o tema provocou a publicação de inúmeros estudos a favor e contra. Cf. Bibliografia textos de S.<br />
Benjamin (1870), John Driver (1850), W. Gourlay (1811), M. Grabham (1870), R. White (1825).<br />
185<br />
. M. J. Báguerra Cervellera, La Tuberculosis y su História, Barcelona, 1992.<br />
186<br />
.António Ribeiro Marques da Silva. Apontamentos sobre o Quotidiano Madeirense (1750-1900), Lisboa, 1994, N. González Lemus, Viajeros Victorianos en<br />
Canarias, Las Palmas, 1998.<br />
187 Journal of a visit to Madeira and Portugal (1853-1954), Funchal, 1970. Todavia, a primeira viajante na ilha foi Maria Riddel que em 1788 visitou a ilha durante<br />
11 dias:A Voyage to The Madeira..., Edinburgh, 1792.<br />
188 .Teneriffe and its six Satellites(1887)<br />
189 . Na Madeira as autorizações de residência estão registadas para os anos de 1869 a 1879 e 1922 a 1937.