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AS ILHAS E O ATLÂNTICO<br />
O <strong>Atlântico</strong> não é só uma imensa massa de água, polvilhada de ilhas, pois a ele associa-se<br />
uma larga tradição histórica que remonta à Antiguidade, donde resultou o nome de baptismo.<br />
Aqui deparamo-nos com um conjunto polifacetado de ilhas e arquipélagos que se tornaram<br />
relevantes no processo histórico do Oceano, quase sempre como intermediários entre o maralto<br />
e os portos litorais dos continentes europeu, africano e americano.<br />
<strong>As</strong> ilhas anicham-se, de um modo geral, junto da costa dos continentes africano e americano,<br />
pois apenas os Açores, Santa Helena, <strong>As</strong>censão e o grupo de Tristão da Cunha se distanciam.<br />
Desde o pioneiro estudo de Fernand Braudel 21 que às ilhas foi atribuída uma posição chave na<br />
vida do oceano e do litoral dos continentes. A partir daqui a Historiografia passou a<br />
manifestar grande interesse. Note-se ainda que, segundo Pierre Chaunu 22 , foi activa a<br />
intervenção dos arquipélagos da Madeira, Canárias e Açores na economia dos séculos XV e<br />
XVII 23 .<br />
Para o <strong>Atlântico</strong> português a conjuntura foi diversa, pois a actuação em três frentes — Costa<br />
da Guiné, Brasil e Índico — alargou os enclaves de domínio ao sul do oceano. Neste contexto<br />
surgiram cinco vértices insulares de grande relevo — Açores, Canárias, Cabo Verde, Madeira<br />
e S. Tomé — imprescindíveis para a afirmação da hegemonia e defesa das rotas oceânicas<br />
dos portugueses. Aí assentou a coroa portuguesa os principais pilares atlânticos da acção,<br />
fazendo de ilhas desertas, lugares de acolhimento e repouso para os náufragos, ancoradouro<br />
seguro e abastecedor para as embarcações e espaços agrícolas dinamizadores da economia<br />
portuguesa. No primeiro caso podemos referenciar a Madeira, Canárias, Cabo Verde, S.<br />
Tomé, Santa Helena e Açores, que emergem, a partir de princípios do século XVI, como os<br />
principais eixos das rotas do <strong>Atlântico</strong>.<br />
Aqui há necessidade de diferenciar as que se afirmaram como pontos importantes das rotas<br />
intercontinentais, como foi o caso das Canárias, Santa Helena e Açores, e as que se filiam nas<br />
áreas económicas litorais, como sucedeu com Arguim, Cabo Verde, o arquipélago do Golfo<br />
da Guiné, Santa Catarina e Marajó. Todas vivem numa situação de dependência em relação<br />
ao litoral que as tornou importantes. Apenas a de S. Tomé, pela importância da cana-deaçúcar,<br />
esteve fora desta subordinação por algum tempo.<br />
O protagonismo das ilhas das Canárias e dos Açores no traçado das rotas oceânicas que se<br />
dirigiam e regressavam das Índias ocidentais e orientais é muito mais evidente, sendo<br />
resultado da sua posição às portas do oceano. Actuaram como via de entrada e de saída das<br />
rotas oceânicas, atraindo a pirataria e corso para a região circunvizinha. Mas os arquipélagos<br />
não foram apenas áreas de apoio, uma vez que o solo fértil permitiu um aproveitamento das<br />
potencialidades por meio das culturas europeio-mediterrâneas. Foi a última vertente que os<br />
projectou para um lugar relevante na História do <strong>Atlântico</strong>.<br />
A valorização sócio-económica dos espaços insulares não foi unilinear, dependendo da<br />
confluência de dois factores. Primeiro, os rumos definidos para a expansão atlântica e os<br />
21 . O Mediterrâneo e o Mundo Maditerrânico na época de Filipe III, 2 vols., Lisboa, 1984 (1ª edição em 1949).<br />
22 . Sevilla y América. siglos XVI y XVII, Sevilha, 1983.<br />
23 . Confronte-se nossos estudos: Comércio inter-insular nos séculos XV e XVI. Madeira, Açores e Canárias, Funchal, 1987; Portugal y<br />
las islas del Atlántico, Madrid, 1992.