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As Ilhas e o sistema Atlântico

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concretização. O <strong>sistema</strong> de defesa costeiro surge com a dupla finalidade: desmobilizar ou<br />

barrar o caminho ao invasor e de refúgio para populações e haveres. Por isso a norma foi a<br />

construção de fortalezas após uma ameaça e nunca de uma acção preventiva, pelo que após<br />

qualquer assalto de grandes proporções sucedia, quase sempre, uma campanha para fortificar<br />

os portos e localidades e organizar as milícias e ordenanças.<br />

A instabilidade provocada pela permanente ameaça dos corsários, a partir do último quartel<br />

do século XV, condicionou o delineamento de um plano de defesa do arquipélago, assente<br />

numa linha de fortificação costeira e de um serviço de vigias e ordenanças. Até ao assalto de<br />

1566 pouca ou nenhuma atenção foi dada à questão ficando a ilha e as gentes entregues à sua<br />

sorte. Em termos de defesa este assalto teve o mérito de empenhar a coroa e os locais na<br />

definição de um adequado plano de defesa. O assalto francês de 1566 veio a confirmar a<br />

ineficácia das fortificações existentes e a reivindicar uma maior atenção das autoridades.<br />

<strong>As</strong>sim realmente aconteceu, pois pelo regimento de 1572 220 foi estabelecido um plano de<br />

defesa a ser executado por Mateus Fernandes, fortificador e mestre-de-obras. Daqui resultou<br />

o reforço do recinto abaluartado da fortaleza velha, a construção de outra junto ao pelourinho,<br />

um lanço de muralha entre as duas e o Castelo de S. Filipe do Pico (1582-1637) 221 .<br />

O plano de defesa das ilhas açorianas começou a ser esboçado em meados do século dezasseis<br />

por Bartolomeu Ferraz, como forma de resposta ao recrudescimento do corso, mas só teve<br />

plena concretização no último quartel da centúria. Bartolomeu Ferraz apresentou à coroa o<br />

rastreio: as ilhas de S. Miguel, Terceira, S. Jorge, Faial e Pico estavam expostas a qualquer<br />

eventualidade de corsários ou hereges; os portos e vilas clamavam por mais adequadas<br />

condições de segurança. Segundo ele os açorianos precisavam de estar preparados para isso,<br />

pois "ome percebido meo combatido". Daí terá resultado a reorganização do <strong>sistema</strong> de defesa<br />

levado a cabo por D. João III e D. Sebastião. Foram eles que reformularam o <strong>sistema</strong> de<br />

vigilância e defesa através de novos regimentos. A construção do castelo de S. Brás em Ponta<br />

Delgada e, passados vinte anos, do castelo de S. Sebastião no Porto de Pipas (em Angra) e de<br />

um baluarte na Horta, eis os resultados mais evidentes da política defensiva.<br />

Pior foi o estado em que permaneceram as ilhas da costa e golfo da Guiné, pois as insistentes<br />

acções de piratas e corsários não foram suficientes para demover os insulares e autoridades a<br />

avançar com um adequado <strong>sistema</strong> defensivo. São poucas as referências à sua defesa mas o<br />

suficiente para atestar a precariedade. Em S. Tomé começou a erguer-se a primeira fortaleza<br />

na Povoação com o capitão Álvaro Caminha, que lhe chamava apenas torre, concluída com o<br />

seu sucessor Fernão de Melo. No tempo de D. Sebastião, as constantes investidas de corsários<br />

franceses -ficou célebre o de 1567— levaram à construção da fortaleza de São Sebastião,<br />

concluída em 1576 e reformulada em 1596. Todavia, tornou-se ineficaz no assalto holandês<br />

de 1599 pelo que se ergueu outra de apoio em Nossa Senhora da Graça. Em Cabo Verde o<br />

empenho na defesa das povoações e portos costeiros tardou uma vez que o principal alvo dos<br />

corsários, nomeadamente franceses, estava no mar. Mais do que construir fortalezas havia<br />

necessidade de limpar os mares e rotas da presença dos intrusos. Para isso, e correspondendo<br />

aos pedidos incessantes dos moradores, a coroa criou uma armada para guarda e defesa do<br />

mar e costa. Além disso a petição dos moradores da Ribeira Grande em 1542 apontava a<br />

necessidade de apetrechar o porto da cidade com um <strong>sistema</strong> de defesa adequado. Os assaltos<br />

de Francis Drake a Santiago (1578 e 1585) levaram à construção de uma fortaleza na Ribeira<br />

Grande apoiada por um lanço de muralha, no período filipino.<br />

220 . Rui Carita, O Regimento de Fortificação de D. Sebastião(1572), Funchal, 1984.<br />

221 Saudades da Terra, livro segundo, 109-110.

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