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As Ilhas e o sistema Atlântico

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condições internas dos multifacetado mundo insular. A concretização não foi simultânea nem<br />

obedeceu aos mesmos princípios organizativos pelo facto de resultar da partilha pelas coroas<br />

peninsulares e senhorios ilhéus. Por outro lado a economia insular resultou da presença de<br />

vários factores que intervêm directamente na produção e comércio. Não basta dispor de solo<br />

fértil ou de produtos de permanente procura, pois a isso deverão associar-se os meios<br />

propiciadores do escoamento e a existência de técnicas e meios de troca adequados ao nível<br />

mercantil atingido pelos circuitos comerciais. Deste modo, para conhecermos os aspectos<br />

produtivos e de troca das economias insulares torna-se necessária a referência aos factores<br />

que estão na origem. Quanto ao sector produtivo deverá ter-se em conta a importância<br />

assumida, por um lado, pelas condições geofísicas e, por outro, pela política régia de<br />

distribuição das culturas. É desta conjugação que se estabelece a necessária hierarquia. Os<br />

solos mais ricos eram reservados para a cultura de maior rentabilidade económica (o trigo, a<br />

cana de açúcar, o pastel), enquanto os medianos ficavam para os produtos hortícolas e<br />

frutícolas, e os mais pobres para pasto e área de apoio às primeiras actividades. A esta<br />

hierarquia definida pelas condições do solo e persistência do mercado podemos adicionar, no<br />

caso da Madeira, outra de acordo com a geografia da ilha e os microclimas que a mesma gera.<br />

O arquipélago açoriano e as demais ilhas na área da Guiné surgem numa época tardia, sendo<br />

o processo de valorização económica atrasado mercê de vários factores de ordem interna a<br />

que não são alheias as condições mesológicas. O clima e solo áridos, num lado, sismos e<br />

vulcões, no outro, eram um cartaz pouco aliciante para os primeiros povoadores. Em ambos<br />

os casos o lançamento da cultura da cana sacarina esteve ligado aos madeirenses. A Madeira,<br />

que se encontrava a pouco mais de meio século de existência como sociedade insular, estava<br />

em condições de oferecer os contingentes de colonos habilitados para a abertura de novas<br />

arroteias e ao lançamento de novas culturas nas ilhas e terras vizinhas. <strong>As</strong>sim terá sucedido<br />

com o transplante da cana-de-açúcar para Santa Maria, S. Miguel, Terceira, Gran Canária,<br />

Tenerife, Santiago, S. Tomé e Brasil.<br />

A tendência uniformizadora da economia agrícola do espaço insular esbarrou com vários<br />

obstáculos que conduziram a um reajustamento da política económica e à definição da<br />

complementaridade entre os mesmos arquipélagos ou ilhas, através de soluções assentes,<br />

quase sempre, no assegurar os componentes da dieta alimentar, e em corresponder à<br />

afirmação nos mercados europeu e atlântico. Foi o que sucedeu com os cereais que,<br />

produzidos apenas nalgumas ilhas, foram suficientes, em condições normais, para satisfazer<br />

as necessidades da dieta insular, sobrando um excedente para suprir as carências do reino.<br />

Um dos objectivos que norteou o povoamento da Madeira foi a possibilidade de acesso a uma<br />

nova área produtora de cereais, capaz de suprir as carências do reino e depois das praças<br />

africanas e feitorias da Costa da Guiné, conhecida como o "saco de Guiné". Os interesses em<br />

torno da cultura açucareira recrudesceram e a aposta na cultura era óbvia. A mudança só se<br />

tornou possível quando se encontrou um mercado substitutivo para o abastecimento de cereal.<br />

Sucedeu assim com os Açores que a partir da segunda metade do século dezasseis passaram a<br />

assumir o lugar da Madeira. O cereal foi o único produto que conduziu à ligação harmoniosa<br />

entre os espaços insulares, o mesmo não sucedendo com o açúcar, o pastel e o vinho, que<br />

foram responsáveis pelo afrontamento e crítica desarticulação dos mecanismos económicos.<br />

A par disso foram o suporte do domínio europeu sobre a economia insular. O açúcar, o pastel<br />

e o vinho exerceram acção devastadora no equilíbrio latente na economia das ilhas.<br />

Diferente foi o que sucedeu aos colonos portugueses quando chegaram a Santiago e S. Tomé.<br />

Aqui houve necessidade de estruturar de forma diversa o povoamento das ilhas e as culturas a

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