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com os mercados do norte da Europa. Por sua iniciativa estabeleceram uma rede familiar de<br />
negócios que foi um dos principais suportes da rede comercial resultante dos<br />
descobrimentos 109 . Desde a Madeira com o incremento do açúcar que a sua presença é<br />
evidente. Tão pouco a criação do tribunal da Inquisição os impediu de manter esta posição.<br />
Note-se, que à medida das intervenções do tribunal da inquisição de Lisboa nos novos<br />
espaços atlânticos, estes iam avançando para novos destinos ou refugiavam-se nas praças do<br />
norte da Europa, mas sem perderem o vínculo aos mercados e espaços de origem. A presença<br />
de muitos judeus portugueses nas Canárias com vínculos às ilhas portuguesas é evidente 110 .<br />
Certamente que a criação dos colégios dos Jesuítas em Ponta Delgada, Angra e Funchal, bem<br />
como as visitas realizadas nos anos de 1575, 1591 e 1618-21 contribuíram para aumentar e<br />
reforçar a presença da comunidade, que se alarga a Cabo Verde e ao Brasil 111 .<br />
A inquisição exercia a actividade através do tribunal de Lisboa, a quem pertencia todo o<br />
espaço atlântico. A acção do tribunal não era permanente e fazia-se através de visitadores aí<br />
enviados. Na Madeira e nos Açores realizaram-se três visitas: em 1575 por Marcos Teixeira,<br />
em 1591-93 por Jerónimo Teixeira Cabral e em 1618-19 por Francisco Cardoso Tornéo, mas<br />
só é conhecida a documentação das duas últimas 112 . Nas ilhas é manifesta a conivência das<br />
autoridades com a presença da comunidade judaica, o que poderá resultar das facilidades<br />
iniciais à sua fixarão. O tribunal interveio apenas nas primeiras ilhas levando a tribunal<br />
alguns judeus, mas poucos, a avaliar pela comunidade aí existentes e insistente permanência.<br />
Entretanto no intervalo de tempo entre as visitas o tribunal fazia-se representar pelo bispo,<br />
clero, reitores do colégio dos jesuítas, "familiares" e comissários do Santo oficio.<br />
A presença da comunidade judaica era evidente. Os judeus, maioritariamente comerciantes,<br />
estavam ligados, desde o início, ao <strong>sistema</strong> de trocas nas ilhas, sendo os principais<br />
animadores do relacionamento e comércio a longa distância. A criação do tribunal do Santo<br />
ofício em Lisboa conduziu a que avançassem no <strong>Atlântico</strong>: primeiro nas ilhas e depois no<br />
Brasil. A diáspora fez-se de acordo com os vectores da economia atlântica pelo que deixavam<br />
atrás um rasto evidente na sua rede de negócios. O açúcar foi sem dúvida um dos principais<br />
móbeis da actividade, quer nas ilhas, quer no Brasil. A par disso, o relacionamento com os<br />
portos nórdicos conduziu a uma maior permeabilidade às ideias protestantes, o que gerou<br />
inúmeras cuidados por parte do clero e do Santo ofício. A incidência do comércio da Madeira<br />
no açúcar, pastel e vinho conduziu ao estabelecimento de contactos assíduos com os portos da<br />
Flandres e Inglaterra, que não era bem visto pelo tribunal. Isto deverá ter favorecido a<br />
presença de uma importante comunidade, o que veio a avolumar as preocupações dos<br />
inquisidores.<br />
Na Madeira, a presença da comunidade britânica era evidente mas manteve-se ilesa. O bispo<br />
funchalense, D. Frei Lourenço de Távora, no sínodo realizado em 15 de Junho de 1615<br />
chamou a atenção para a presença de estrangeiros "de partes infeccionadas na fé", apelando<br />
109<br />
. P. SALAMON, Os Primeiros Portugueses de Amesterdão, in Caminiana, V, nº.8, 1983, pp.22-104<br />
110<br />
Lucien Wolf, Jews in the Canary Islands..., Londres, s.d.; Luis Alberto Anaya Hernandez, Una Comunidad Judeoconversa de origen<br />
portuguesa comienzos del siglo XVI en la isla de La Palma, II Colóquio Internacional de História da Madeira, 1989, 685-700; IDEM,<br />
Relaciones de los Archipielagos de Azores y de la Madera con Canrias, segun fuentes inquisitoriales(siglos XVI y XVII), I Colóquio<br />
Interncional de História da Madeira, Funchal, 1989, 846-877.<br />
111<br />
Arnold Wiznitzer, Os Judeus no Brasil Colonial, S. Paulo, 1966; José António Gonçalves Salvador, Os Cristãos Novos e o comércio no<br />
<strong>Atlântico</strong> Meridional, S. Paulo, 1978.<br />
112 .Confronte-se Maria do Carmo Dias FARINHA, "A Madeira nos arquivos da inquisição", in Actas do I Colóquio Internacional de<br />
História da Madeira, vol.I, Funchal, 1990, pp.689-742. O seu estudo foi feito por Fernanda OLIVAL,"Inquisição e a Madeira. visita de<br />
1618", in Actas do I Colóquio Internacional de História da Madeira, vol. II, Funchal, 1990, 764-818; "A visita da Inquisição à Madeira<br />
em 1591-1592", in Actas. III Colóquio Internacional de História da Madeira, Funchal, 1993, 493-520.