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As Ilhas e o sistema Atlântico

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manifestas as influências da posição geográfica na definição de um clima tropical seco ou<br />

equatorial. Daqui resultou a diversidade de formas de valorização económica e social.<br />

Para os europeus a Madeira e os Açores ofereciam melhores requisitos, pelas semelhanças do<br />

clima com o de Portugal, do que Cabo Verde ou S. Tomé. Nos dois últimos arquipélagos<br />

foram inúmeras as dificuldades de adaptação do homem e das culturas europeiomediterrânicas.<br />

Aí deu-se lugar ao africano e as culturas mediterrânicas de subsistência foram<br />

substituídas pelas trocas na vizinha costa africana. A preocupação pelo aproveitamento dos<br />

recursos locais surge num segundo momento. Por fim é necessário ter em conta que as<br />

condições morfológicas estabeleceram as especificidades de cada ilha e tornaram possível a<br />

delimitação do espaço e forma de aproveitamento económico. O relevo costeiro foi<br />

importante pois, as possibilidades de acesso ao exterior através de bons ancoradouros, era um<br />

factor importante. A partir daqui se torna compreensível a situação da Madeira, definida pela<br />

excessiva importância da vertente sul em detrimento do norte, como ao facto de Fernando Pó<br />

ser preterida em favor de S. Tomé. Estávamos perante a plena dominância do litoral como<br />

área privilegiada de fixação ainda que, por vezes, o não fosse em termos económicos. Nas<br />

ilhas em que as condições orográficas propiciavam uma fácil penetração no interior, como<br />

sucedeu em S. Miguel, Terceira, Graciosa, Porto Santo, Santiago e S. Tomé, a presença<br />

humana alastrou até aí e gerou os espaços arroteados. Para as demais a omnipresença do<br />

litoral é evidente e domina a vida dos insulares, sendo o mar a via privilegiada. Os exemplos<br />

da Madeira e S. Jorge são paradigmáticos.<br />

<strong>As</strong> condições geo-climáticas definiram a mancha de ocupação humana e agrícola das ilhas,<br />

conduzindo a uma variedade de funções económicas, por vezes, complementares. Nos<br />

arquipélagos constituídos por maior número de ilhas a articulação dos vectores da<br />

subsistência com os da economia de mercado foi mais harmoniosa não causando grandes<br />

desequilíbrios. Os Açores apresentam-se como a expressão perfeita da realidade, enquanto a<br />

Madeira pode ser considerada o reverso da medalha. A mudança de centros de influência<br />

levou a que os arquipélagos atlânticos assumissem uma função importante. Poderá juntar-se a<br />

presença de gentes ribeirinhas do Mediterrâneo, interessadas em estabelecer os produtos de<br />

troca e o necessário suporte financeiro. A constante premência do Mediterrâneo nos<br />

primórdios da expansão atlântica poderá ser responsabilizada pela dominante mercantil das<br />

novas experiências de arroteamento. Certamente que os povos peninsulares e mediterrânicos,<br />

ao comprometerem-se com o processo atlântica, não puseram de parte a tradição agrícola e os<br />

incentivos comerciais dos mercados de origem. Por isso, na bagagem dos primeiros<br />

cabouqueiros insulares foram imprescindíveis as cepas, as socas de cana, alguns grãos do<br />

precioso cereal, de mistura com artefactos e ferramentas. A afirmação das áreas atlânticas<br />

resultou do transplante material e humana de que os peninsulares foram os principais<br />

obreiros. O processo foi a primeira experiência de ajustamento das arroteias às directrizes da<br />

nova economia de mercado.<br />

A aposta foi numa agricultura capaz de suprir as faltas do velho continente, quer os cereais,<br />

quer o pastel e açúcar, do que o usufruto das novidades propiciadas pelo meio. <strong>As</strong>sim, em<br />

Cabo Verde e São Tomé onde as dificuldades de implantação das tradicionais culturas de<br />

subsistência europeia não foi facilmente compensada com a oferta dos produtos africanos<br />

como o milho zaburro e inhames. Em Cabo Verde, cedo se reconheceu a impossibilidade da<br />

rendosa cultura dos canaviais, mas tardou em valorizar-se o algodão como produto<br />

substitutivo, tal era a obsessão pelo açúcar e trocas na costa da Guiné.<br />

A sociedade e economia insulares surgem na confluência dos vectores externos com as

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