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As Ilhas e o sistema Atlântico

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como um centro de divergência de gentes no novo mundo.<br />

A mobilidade do ilhéu levou os monarcas a definirem uma política de restrições no<br />

movimento emigratório em favor da fixação do colono à terra, como forma de evitar o<br />

despovoamento das áreas já ocupadas. O apelo das riquezas de fácil resgate africano ou da<br />

agricultura americana eram para o homem do século XV mais convincentes, tendo a favor a<br />

disponibilidade dos veleiros que escalavam com assiduidade os portos insulares. A emigração<br />

era inevitável.<br />

A Madeira e as Canárias desfrutavam no século XV de uma posição privilegiada no espaço<br />

situado entre a costa e ilhas africanas, afirmando-se como importantes centros emigratórios.<br />

Para isso contribuiu o facto de estar associada ao madeirense uma cultura que foi a principal<br />

aposta das arroteias do <strong>Atlântico</strong>, isto é, a cana sacarina. Os madeirenses aparecem nas<br />

Canárias, Açores, S. Tomé e Brasil a dar o seu contributo para que no solo virgem brotem os<br />

canaviais, apareçam os canais de rega ou de serviço aos engenhos, a que também foram<br />

obreiros nos avanços tecnológicos. A crise da produção açucareira madeirense, gerada pela<br />

concorrência do açúcar das áreas que os habitantes contribuíram para criar, empurrou-nos<br />

para destinos distantes. Na migração atlântica, iniciada na Madeira, é de referenciar o caso da<br />

emigração inter insular dos arquipélagos do Mediterrâneo <strong>Atlântico</strong>. <strong>As</strong> ilhas, pela<br />

proximidade e forma similar de vida, aliadas às necessidades crescentes de contactos<br />

comerciais, exerceram também uma forte atracção entre si. Madeirenses, açorianos e canários<br />

não ignoravam a condição de insulares e, por isso mesmo, sentiram necessidade do<br />

estreitamento dos contactos.<br />

A Madeira, mais uma vez, pela posição charneira entre os Açores e as Canárias e da<br />

anterioridade no povoamento, foi, desde meados do século XV, um importante viveiro<br />

fornecedor de colonos para os arquipélagos e elo de ligação. A ilha funcionou mais como<br />

pólo de emigração para as ilhas do que como área receptora de imigrantes. Se exceptuarmos o<br />

caso dos escravos guanches e a inicial vinda de alguns dos conquistadores de Lanzarote,<br />

podemos afirmar que o fenómeno é quase nulo, não obstante no século dezasseis os açorianos<br />

surgirem com alguma evidência no Funchal. A presença de uma comunidade de açorianos nas<br />

ilhas Canárias, principalmente nas ilhas de Gran Canária, Tenerife e Lanzarote, dedicados à<br />

cultura dos cereais, vinha, cana sacarina e pastel. Mas açorianos e canarianos, bem<br />

posicionados no traçado das rotas oceânicas, voltaram a atenção para o promissor novo<br />

mundo 91 .<br />

OS INSULARES E O BRASIL<br />

O Brasil exerceu ao longo da História um certo fascínio sobre os insulares, que se encontram<br />

ligados ao processo da sua construção desde o início. A História dos arquipélagos da<br />

Madeira, Açores, Cabo Verde e Canárias têm relevado nos últimos anos a presença dos<br />

insulares como lavradores, mercadores, funcionários e militares. Para os séculos XVI e XVII<br />

valorizou-se a presença de madeirenses, de Norte a Sul, como lavradores e mestres de<br />

engenho, que foram pioneiros na definição da agricultura de exportação baseada na cana-deaçúcar,<br />

funcionários que consolidaram as instituições locais e régias, ou militares que se<br />

bateram em diversos momentos pela soberania portuguesa. O forte impacto madeirense nos<br />

primórdios da sociedade brasileira levou Evaldo Cabral de Mello a definir a capitania de S.<br />

91 . Cf. José Pérez Vidal, Aportación de Canárias a la Población de América, Las Palmas de Gran Canária, 1991.

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