DRAMÁTICA NARRATIVA - Leia Brasil
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P R O P O S T A D E L E I T U R A D E M U N D O A T R A V É S D A N A R R A T I V A D R A M Á T I C A<br />
ao mesmo tempo, como conseguem atingir aqueles veículos,<br />
que também utilizam a narrativa dramática. Esses<br />
têm um alcance tão grande que são chamados veículos<br />
de comunicação de massa. São meios de comunicação –<br />
não necessariamente de criação – des-<br />
tinados a alcançar a massa – um amontoado<br />
informe, heterogêneo, impessoal,<br />
que iguala milhões e milhões de<br />
pessoas num mesmo nível – não necessariamente<br />
o indivíduo, com sua<br />
percepção singular e particular. O teatro,<br />
ao contrário, pode prescindir de<br />
quase todo tipo de tecnologia. Antes<br />
da invenção da eletricidade, o palco<br />
era iluminado por tochas. Antes da<br />
invenção da gravação eletrônica de<br />
sons, as músicas eram feitas com instrumentos<br />
e vozes ao vivo; e os ruídos,<br />
por meio de recursos simples: por exemplo, ao agitar<br />
uma chapa metálica produzem-se sons de relâmpagos<br />
e trovões. Por mais contraditório que pareça, é justamente<br />
esta aparente antiguidade do teatro, que o torna<br />
mais livre, mais independente e mais moderno. A dependência<br />
da tecnologia traz a ameaça de ficar, além de<br />
caro, obsoleto – os filmes sonoros ocuparam o lugar dos<br />
filmes mudos do início do cinema; e os filmes em preto<br />
e branco perderam lugar para os coloridos. O disco longplay<br />
e o home-vídeo ficaram obsoletos com o surgimento<br />
do CD e do DVD. Para alcançar a plenitude de sua<br />
expressão, que é revelar, sem medo e sem preconceito, as<br />
verdades últimas dos homens, o teatro precisa ser radicalmente<br />
independente e autônomo. Não pode tolerar<br />
constrangimentos nem censuras – depender de tecnologia<br />
e de grandes investimentos pode significar compromissos<br />
que causam arrepios à liberdade do teatro. O teatro,<br />
na sua abençoada antiguidade, não entrou na era da<br />
reprodutibilidade técnica – o que acabou contribuindo<br />
para o seu encantamento e fascínio: é feito ao vivo, por<br />
seres vivos, e destinado aos seres vivos; e o ser humano<br />
ainda não inventou nada mais fascinante do que o próprio<br />
ser humano – que é capaz de se recriar e se reproduzir,<br />
mas não de se inventar.<br />
Cada espetáculo teatral, feito com a mesma peça e<br />
o mesmo elenco, é diferente de todos os demais. Cada<br />
apresentação é única, singular. Embora tente repetir literalmente<br />
a sua forma, o seu arcabouço, e a arquitetura<br />
A intensidade da presença<br />
viva e falível das pessoas<br />
é a maior força do teatro,<br />
é a sua beleza e a sua<br />
essência. O teatro troca a<br />
possibilidade da<br />
eternidade, aspiração<br />
comum às obras de arte,<br />
pela intensidade<br />
do efêmero.<br />
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da sua concepção – nos figurinos, nos cenários, na maquiagem,<br />
nos movimentos e nas falas proferidas – é uma<br />
arte viva, feita e assistida por pessoas vivas, que estão, no<br />
palco e na platéia, a cada dia, a cada momento, em novas<br />
circunstâncias e emoções. Nada na<br />
vida se repete como cópia fiel, tampouco<br />
os espetáculos teatrais. A intensidade<br />
da presença viva e falível das pessoas<br />
é a maior força do teatro, é a sua<br />
beleza e a sua essência. O teatro troca<br />
a possibilidade da eternidade, aspiração<br />
comum às obras de arte, pela intensidade<br />
do efêmero. Não tendo, pelas<br />
suas características, nem a presunção<br />
nem a ambição de atingir um grande<br />
número de pessoas ao mesmo tempo,<br />
pode até fazê-lo – e talvez aspire,<br />
apresentando-se para poucos de cada<br />
vez, num grande número de vezes. Nenhuma revolução<br />
tecnológica interferiu na essência do teatro – embora, é<br />
claro, possa influenciar, segundo opção dos realizadores,<br />
na forma, na aparência dos espetáculos. Não na sua<br />
essência por uma razão definitiva: o teatro é uma arte<br />
que dá forma e expressão à natureza humana que, apesar<br />
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