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DRAMÁTICA NARRATIVA - Leia Brasil

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PROPOSTA DE LEITURA DE MUNDO ATRAVÉS DA <strong>NARRATIVA</strong> <strong>DRAMÁTICA</strong><br />

INTERPRETAÇÃO<br />

assistir. E um dia após o outro estaremos, ali, contando a<br />

mesma história.<br />

E nunca será igual. Repetir é recriar. Cada vez será<br />

sempre única e sutilmente diferente.<br />

E que outro coletivo pode sempre contar a mesma<br />

história e nunca ser chato, nunca ser repetitivo? Porque<br />

sabemos do valor da ancestralidade do teatro. Sabemos<br />

que a cada vez que contamos a mesma história, estamos<br />

revivendo-a de forma diferente. Estamos recriando-a e nos<br />

emocionando novamente com aquele mito que estamos<br />

repetindo através do rito. O ritual teatral nos absolve da<br />

chatice e nos coloca na contemporaneidade dos deuses.<br />

Chegamos a um momento em que o leitor pode<br />

pensar: ah, lá vem aquela lengalenga de dizer que os atores<br />

são deuses. Não é nada disso, somos apenas os sátiros,<br />

aqueles que dançam e cantam para celebrar a liturgia<br />

e avivar nos corações dos homens nossa ancestralidade.<br />

O teatro me ensinou a viver e me tirou da mediocridade.<br />

Tudo que sei, faço e crio devo a ele. Mesmo<br />

que não fosse atriz, seria melhor profissional de qualquer<br />

outra profissão, porque entendi a representação<br />

teatral. “O mundo é um palco” – já nos disse Shakespeare<br />

– e quem sou eu para duvidar dele. Aceitando<br />

isso, podemos perceber que o tempo todo estamos representando<br />

personagens diferentes, em tramas diversas<br />

e em gêneros variados. Somos mãe, filha, mulher,<br />

amante, amiga, profissional, aluna etc... Às vezes, a trama<br />

nos leva a desempenhar o papel da boazinha, ou da<br />

rebelde, ou da competente, ou da burra, ou da passiva,<br />

ou da autoritária, ou da carinhosa, ou da ausente. Às<br />

vezes, numa situação que podemos puxar para a comédia,<br />

o drama, o melodrama, a tragédia, a farsa ou até<br />

mesmo um vaudeville. Não importa. O importante é<br />

termos a consciência de que estamos sempre representando.<br />

E quanto mais apaziguados, identificados<br />

e sabedores dos nossos papéis, melhor poderemos<br />

representá-los com a verdade e a naturalidade<br />

que exigirá cada situação.<br />

E não vamos esquecer que somos bons<br />

atores e, portanto, estaremos ali, cheios de verdade,<br />

contribuindo para que a ação caminhe,<br />

sabendo que a cada ação corresponde uma<br />

reação e que teremos que arcar com a responsabilidade<br />

de nossos atos. Mas, sabendo<br />

também que, no próximo ato, poderemos<br />

nos arrepender ou fazer diferente<br />

48<br />

ou encontrar outro caminho para exemplificar o melhor<br />

ritmo de cada cena.<br />

Somos sempre atores-autores de nossas vidas.<br />

Quando comecei a dar aula de improvisação teatral<br />

e jogos dramáticos, há 25 anos, foi outra revelação. Aí<br />

comecei realmente a entender o fazer teatral. Tudo que<br />

sei, e é muito pouco comparado com o que não sei, aprendi<br />

observando meus alunos. A cada turma que começa<br />

em março, e eu tenho o privilégio de acompanhar a transformação<br />

de um aluno da inércia para a criação, sei que<br />

o milagre se deu. Sempre é hora de agir.<br />

–... Queridos, estamos nós aqui, este coletivo, neste<br />

espaço, cada um com seu papel a cumprir. Todos são<br />

importantes, os que vão atuar mais e os que vão atuar<br />

menos, toda contribuição para a criação é generosa e será<br />

reconhecida. A melhor idéia vai prevalecer, mas ela será<br />

a soma da discussão. É preciso ter objetividade e clareza.<br />

Não esqueçam do foco quando estiverem falando. Saibam<br />

a hora de entrar e sair de cena. Percebam qual é o<br />

melhor tom para cena. Não podemos falar todos juntos.<br />

A cada um, a sua vez. É preciso escutar o outro. Não<br />

importa se o personagem pertence a alguém, cada um<br />

deve contribuir para o entendimento daquele papel. Assim,<br />

mesmo que só um ator dê voz àquele personagem,<br />

ele terá a contribuição<br />

de<br />

Guida Vianna em Cabaré Cabaré Satie Satie, Satie 1999. Foto: Cláudia Ribeiro. Acervo pessoal de Guida Vianna.

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