DRAMÁTICA NARRATIVA - Leia Brasil
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P R O P O S T A D E L E I T U R A D E M U N D O A T R A V É S D A N A R R A T I V A D R A M Á T I C A<br />
gras de composição cromática dos cenários. A cor é<br />
usada como símbolo, buscando captar os sentidos e a<br />
emoção. A descrição da realidade é substituída pela<br />
sugestão de uma atmosfera.<br />
Ao longo da primeira metade do século, a visualidade<br />
da cena acompanha o desenvolvimento das artes<br />
plásticas, em especial, o da pintura. O Expressionismo,<br />
o Cubismo, o Futurismo, e outros movimentos artísticos<br />
suscitam experiências diversas no teatro. Por vezes,<br />
a visualidade chega a falar mais alto que o próprio espetáculo,<br />
dando a perceber, que sua criação vai além da<br />
composição pictórica. O diretor, muitas vezes, toma as<br />
rédeas da criação de cenários, por entender que a concepção<br />
visual de uma peça deva estar subordinada à<br />
encenação. Para os figurinos, antes de recorrer aos artistas<br />
plásticos, ele prefere trabalhar com um artista especializado,<br />
capaz de resolver os problemas técnicos.<br />
Surge, então, o figurinista.<br />
No <strong>Brasil</strong>, até a transferência da corte portuguesa<br />
para o Rio de Janeiro, o teatro e, por conseguinte, o que<br />
se vestia em cena, era pautado pelo improviso. Os primeiros<br />
teatros, construídos basicamente para sediar a<br />
ópera italiana, apresentavam-na de forma tosca, com elenco<br />
arregimentado entre negros alforriados, mulatos, estudantes,<br />
professores, pequenos funcionários públicos,<br />
caixeiros de lojas e militares, sendo comum o travestismo,<br />
para a apresentação de papéis femininos3 .<br />
A evolução da indumentária acompanha a formação<br />
da dramaturgia nacional, que tem início na primeira<br />
metade do século XIX, com Gonçalves de Magalhães e<br />
Martins Penna*. A tipificação das personagens é um dos<br />
alicerces das peças de Penna e encontra no figurino o<br />
apoio necessário para a caracterização. A partir de 1857,<br />
José de Alencar inaugura o realismo na dramaturgia, com<br />
Rio Rio de de de Janeiro, Janeiro, V VVerso<br />
V Verso<br />
erso e e R RReverso<br />
R everso everso. everso Suas peças procuram<br />
ser um quadro crítico da sociedade, com o cuidado de<br />
não cair na caricatura. Alencar era um “escritor visual” 4 ,<br />
preocupado em comunicar suas idéias de forma clara.<br />
Tanto em seus textos literários quanto nos teatrais, incorpora<br />
aspectos do cotidiano, tirando partido para comentários<br />
críticos:<br />
* Gonçalves de Magalhães e Martins Penna têm sido considerados os<br />
primeiros escritores de tragédia (Antônio Antônio J JJosé<br />
J osé e e o o poeta poeta da da inquisiinquisi-<br />
ção ção, ção 1838) e de comédia (O O juiz juiz de de paz paz da da roça roça, roça 1838), respectivamente<br />
(Ibid.: 40).<br />
69<br />
(...)<br />
ERNESTO– Como se diz isso, meu<br />
Deus! Pode haver coisa mais linda<br />
do que um passeio ao Corcovado,<br />
donde se vê toda essa cidade, que<br />
bem merece o nome que lhe deram<br />
de princesinha do vale? Pode<br />
haver nada mais encantador<br />
do que um baile no clube?<br />
Que noites divertidas não<br />
se passa no Teatro Lírico, e<br />
mesmo no Ginásio, onde fomos<br />
tantas vezes?<br />
JÚLIA – Fui por comprazer, e não por gostar.<br />
Acho tudo isto tão insípido! Mesmo as moças<br />
do Rio de Janeiro...<br />
ERNESTO – Que têm?<br />
JÚLIA – Não são moças. São umas bonecas de papelão,<br />
uma armação de arames.<br />
ERNESTO – Mas é a moda, Júlia. Que remédio têm<br />
elas senão usar? Hão de fazer-se esquisitas? Demais,<br />
prima, quer que lhe diga uma coisa? Essas saias<br />
balões, cheias de vento, têm uma grande virtude.<br />
JÚLIA - Qual é?<br />
ERNESTO – Fazer com que um homem acredite<br />
mais na realidade e não se deixe levar tanto pelas<br />
aparências.<br />
JÚLIA – Não o entendo; é charada.<br />
ERNESTO – Ora! Está tão claro! Quando se dá a um<br />
pobre um vintém de esmola, ele recebe e agradece;<br />
mas, se lhe derem uma moeda que pareça ouro, desconfiará.<br />
Pois o mesmo me sucede com a moda.<br />
Quando vejo uma crinolina, digo com os meus botões<br />
– “é mulher ou pode ser”. Quando vejo um balão,<br />
não tem dúvida: – “é saia, e saia unicamente!”.<br />
JÚLIA (Rindo) – Pelo que vejo, não há nada no<br />
Rio de Janeiro, ainda mesmo o que é ruim, que<br />
não tenha um encanto, uma utilidade para o<br />
senhor, meu primo? Na sua opinião é uma terra<br />
excelente. 5<br />
(...)<br />
No trecho do diálogo, o autor comenta a moda das<br />
anáguas de arcos (saia balão, como chamadas por Ernesto),<br />
que substituem as volumosas anáguas de babados,<br />
que formavam a silhueta da indumentária feminina, em