DRAMÁTICA NARRATIVA - Leia Brasil

P R O P O S T A D E L E I T U R A D E M U N D O A T R A V É S D A N A R R A T I V A D R A M Á T I C A
é a sua extraordinária virtude, pois é exatamente por ter
o corpo na lama e o espírito nos céus que o teatro tem
estado tão próximo do homem. O teatro existe porque
existem personagens, que serão representados por atores
e atrizes, que criarão a magia da cena, que jogará luz sobre
a experiência de ser um humano nesse mundo.
Para os efeitos que aqui se pretendem, convém pôr
de lado a complexidade do espetáculo e a parafernália
para a sua realização – os artigos que se seguem
a este tratarão desses aspectos. Bem sabemos da
especificidade do texto dramático e de como a
sua leitura envolve certas particularidades, levando
até à idéia de que para alcançar as questões
que aborda seja indispensável a encenação.
É evidente que uma peça é escrita para
ser encenada num palco e para que seus personagens
sejam representados por atores. Mas, na
estratégia que se pretende esboçar aqui, importa
centrar o foco na dramaturgia, ou melhor, no ato
de ler e entender uma peça teatral e mergulhar
nos problemas que discute, em desvelar e entender
o caráter das personagens, acompanhar as
suas ações, elaborar os significados e discernir
os valores que infundem, de forma explícita ou
implícita, em cada gesto, atitude e comportamento.
Em grego, a palavra drama – outro nome
do teatro – significa ação. O teatro pode ser entendido
como a ação de mimetizar, ou seja, de imitar
ou representar o comportamento humano. Embora
seja escrito com palavras, da mesma maneira com que
escreve a literatura, o drama não é propriamente literatura.
Por isso é, ás vezes, chamado de literatura dramática.
Mas, na verdade, o que faz com que o teatro seja
teatro é justamente o que no texto escrito está para além
das palavras, que é a ação, ou aquilo que precisa ser representado,
a fim de que as intenções do autor sejam
realizadas em sua plenitude. Na narrativa literária, o autor
descreve os cenários, os figurinos, a atmosfera e, podendo
invadir a subjetividade das personagens, descreve
até as suas intenções, por mais ocultas que sejam. Além
disso, pela sua própria natureza, tende a relatar acontecimentos
que já ocorreram e que, no momento da leitura,
pertencem ao passado. Enquanto o romancista precisa
descrever as características físicas de um personagem, sua
aparência, a cor dos cabelos, seu gesto peculiar de ajeitar
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Aristóteles em Afresco da Capela Cistina.