DRAMÁTICA NARRATIVA - Leia Brasil
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PROPOSTA DE LEITURA DE MUNDO ATRAVÉS DA <strong>NARRATIVA</strong> <strong>DRAMÁTICA</strong><br />
DIREÇÃO<br />
imediato e passaria a comandante do navio, quis logo<br />
conhecer a última e mais preciosa lição. Com a chave<br />
finalmente nas mãos, trancou-se na cabine, abriu a gaveta,<br />
pegou o velho papel e, cheio de emoção, preparou-se<br />
para ler. Estava escrito: bombordo é à esquerda e estibordo<br />
à direita.<br />
Não devia ser eu a escrever este manual, ou que<br />
nome deva dar a esse texto. Já perdi a chave da gaveta e<br />
não sei mais de que lado é bombordo, de que lado é<br />
estibordo. É verdade que não tenho nada da sabedoria<br />
do velho comandante dessa história. A única coisa que<br />
me aproxima dele é o tempo de mar.<br />
Entrei nesse barco, o teatro, exatamente no mês de<br />
maio de 1954, no papel de um menino, personagem do<br />
melodrama representado por um grupo amador de alunos<br />
de uma faculdade de filosofia. Como eles não tinham<br />
nenhum menino prodígio estudando (ou ensinando)<br />
filosofia na faculdade, valeram-se de um medíocre<br />
aluno do colégio que funcionava no mesmo prédio, eu.<br />
Quando escrevo isso, em abril de 2006, já se passaram<br />
mais de 50 anos.<br />
Nunca saí desse barco, nunca deixei de navegar. Já<br />
pus em dúvida todas as regras, já transgredi todas as leis,<br />
já fiz como devia e como não devia ser feito, já tive a<br />
irreverência dos jovens e, mesmo velho lobo desse mar,<br />
continuo transgressor. Não sei mais as primeiras lições,<br />
não devia escrever este manual.<br />
Mas se, teimoso, aceito o convite e escrevo, traço<br />
um rumo: buscar não o caminho das grandes navegações,<br />
mas buscar obstinadamente a memória de que lado<br />
é bombordo e de que lado é estibordo, tudo o que se<br />
precisa saber para viajar. É um risco navegar assim como<br />
navego, com essa chave perdida. Escrevo para me salvar.<br />
Diretor?<br />
Com um título importante e impreciso – diretor – esse<br />
cidadão cuida da organização do espetáculo teatral. O nome<br />
diretor serve para muita coisa, pode-se ser diretor de um<br />
colégio, de uma empresa e, nesse caso, diretor de vendas,<br />
de pessoal, de marketing...<br />
Chamar o diretor de teatro de encenador talvez o identifique<br />
melhor, embora muitos achem “encenador” uma<br />
palavra afetada. Houve um tempo em que, no <strong>Brasil</strong>, ele se<br />
chamou ensaiador. O mundo do teatro faz algumas distinções<br />
entre esses nomes – diretor, encenador, ensaiador –<br />
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Molière.<br />
com mais ou menos razão. A expressão francesa metteur-enscène<br />
talvez deva seu uso universal à felicidade da sua síntese:<br />
aquele que põe em cena. Enfim, encenador.<br />
Coerente com a indefinição do título que se dá a<br />
esse oficial, também está a dificuldade de saber com precisão<br />
o que é resultado do seu trabalho. Como ele não<br />
tem uma representação concreta no espetáculo – da espécie<br />
de representação que têm o autor, o cenógrafo, o<br />
figurinista –, especula-se sobre o que é, enfim, responsabilidade<br />
dele. Sabe-se que ele assina o espetáculo, isto é,<br />
que se atribui a ele, em última análise, a “autoria” do<br />
espetáculo, mas isso só o torna suspeito.<br />
Claro, o autor está representado pela história, pelos<br />
personagens, pelos diálogos etc.; o público vê o cenário,<br />
criação do cenógrafo, naturalmente; as roupas exibem o<br />
trabalho do figurinista. Enfim, a contribuição de todos é<br />
identificável: do iluminador, do coreógrafo, do compositor.<br />
Do ator e do que ele faz, sobretudo, não se tem