DRAMÁTICA NARRATIVA - Leia Brasil
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Divulgação. OBSERVATÓRIO LEIA BRASIL<br />
PROPOSTA DE LEITURA DE MUNDO ATRAVÉS DA <strong>NARRATIVA</strong> <strong>DRAMÁTICA</strong><br />
86<br />
expor um pequeno mito sobre a invenção da escrita no<br />
Egito. O mito conta do grande inventor egípcio Teute<br />
que, além dos números, da geometria e da astronomia,<br />
teria também inventado a escrita e levado todas as suas<br />
invenções para o rei egípcio Tamus. Ao chegar o momento<br />
de apresentar a escrita, Teute fez uma pequena<br />
explicação: trata-se de uma descoberta que vai salvar a<br />
nossa memória. No entanto, ao tomar conhecimento do<br />
que se tratava, o rei Tamus lhe respondeu: essa invenção<br />
não vai salvar nossa memória e, sim, acabar com ela.<br />
Platão relembra esse mito para chamar a atenção de<br />
que uma sociedade que introduza a escrita na sua cultura,<br />
imediatamente exclui uma tradição oral de transmissão<br />
de informações e valores. Com isso, ao mesmo tempo<br />
em que dispõe as informações e os valores duradouramente<br />
para todas as gerações, a escrita faz reduzir a<br />
preocupação com a vivência coletiva dessas informações<br />
e valores. Daí surgem paradoxos muito comuns à nossa<br />
época, como, por exemplo, o desconhecimento das leis:<br />
não sabemos, nós leigos cidadãos, os conteúdos dos diversos<br />
códigos penais, civis, criminais, tributários etc. que<br />
regem nossas vidas. No entanto, não é um argumento<br />
judicialmente válido o desconhecimento da lei. Por outro<br />
lado, no momento em que optamos (ou fomos colonizados,<br />
sem alternativa) por uma cultura letrada, colocamos<br />
nas letras a fonte do poder: as leis estão escritas –<br />
e é importante que elas estejam escritas e não apenas na<br />
veneta de algum governante –, as tradições estão escritas,<br />
nossa identidade está escrita, nossa história está escrita.<br />
Enfim, se devemos ser uma democracia, é preciso<br />
que o demos, o povo em geral, tenha acesso a esse krátos,<br />
a essa fonte de poder.<br />
Penso ter assim oferecido pelo menos um argumento<br />
para sustentar que a urgência da formação de leitores<br />
para a consolidação de uma sociedade democrática. É preciso<br />
então definir qual o papel a ser desempenhado pela<br />
Universidade frente a essa articulação escola / organização<br />
não-governamental / leitura / democracia. A resposta<br />
está em que é parte integrante da função da Universidade<br />
a observação e a participação nas ações de relevo em sua<br />
sociedade, e função particularmente de uma Faculdade de<br />
Educação o contato e o intercâmbio permanente com as<br />
instituições de ensino, sejam elas formais ou informais.<br />
Essa é a ação da pesquisa e essa é a ação da extensão, dois<br />
dos três setores que formam a Universidade e que são, em<br />
geral, esquecidos em privilégio do ensino.