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DRAMÁTICA NARRATIVA - Leia Brasil

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P R O P O S T A D E L E I T U R A D E M U N D O A T R A V É S D A N A R R A T I V A D R A M Á T I C A<br />

dúvida: eis o homem, eis a mulher. Mas nada material,<br />

palpável, identifica o diretor, digo, o encenador.<br />

O que ele faz? Ou o que ele não faz?<br />

Quando comecei a construir espetáculos, aí pelo<br />

começo dos anos 70, ainda eram os diretores, quase sempre,<br />

os responsáveis pela iluminação. A sofisticação dos<br />

equipamentos, devida ao desenvolvimento tecnológico,<br />

que não pára de desenvolver refletores de inúmeros tipos,<br />

controles computadorizados etc., exigiu a especialização<br />

de técnicos e artistas que passaram a cuidar desse<br />

aspecto do espetáculo.<br />

Também eram os diretores que faziam o trabalho<br />

teórico de aproximar texto e contexto, buscando, por<br />

exemplo, uma bibliografia capaz de elucidar aspectos<br />

históricos, literários etc., da peça a ser montada, construindo<br />

para os atores e toda a equipe uma ponte entre<br />

o autor, a peça e a encenação que se fazia. Hoje,<br />

muitas vezes, esse trabalho passou para a responsabilidade<br />

de um outro colaborador, que ganhou até nome<br />

novo, o dramaturgista.<br />

O diretor de teatro era também responsável por definir<br />

o movimento dos atores. Conheço o livro de um diretor<br />

da velha época, editado na primeira metade dos anos<br />

50, Escola Escola T TTeatral<br />

T eatral de de Ens Ensaiadores<br />

Ens aiadores aiadores, aiadores em que seu autor,<br />

Otávio Rangel, se dedica quase exclusivamente a dizer<br />

como “marcar” os movimentos numa comédia, num drama,<br />

numa farsa etc. Quando se estabeleceu uma discussão<br />

para distinguir entre teatro vivo e teatro morto, aí pelos<br />

anos 60, 70, essa função foi muito atacada: seria castradora<br />

da liberdade criativa dos atores, não se deveriam<br />

“marcar” os movimentos; os atores deveriam obedecer aos<br />

seus impulsos, ser “livres”, sinônimo de “vivos”.<br />

Mas depois que passou o primeiro momento dessa<br />

crise de afirmação do novo teatro – que precisava afirmar<br />

sua vida diante do cine-teatro e do tele-teatro – ficou<br />

claro (para muitos, não para todos, nada é claro para<br />

todos) que não estava nos movimentos “marcados”<br />

a causa de um teatro morto. Muitos diretores considerados<br />

hoje da vanguarda mais radical (sei, a<br />

vanguarda não determina necessariamente um teatro<br />

vivo, mas...) são quase coreógrafos, seus espetáculos<br />

são identificados justamente pelos movimentos<br />

que eles criam para os atores.<br />

No entanto, no contexto dessa discussão<br />

sobre o movimento, apareceram novos profissionais,<br />

que começaram responsáveis pelo<br />

29<br />

que se chamou de “expressão corporal” e hoje costumam<br />

assinar sua colaboração no espetáculo como “direção<br />

de movimentos”.<br />

Bom, não fazem mais a iluminação, não trazem mais<br />

a teoria, nem são mais responsáveis pelos movimentos<br />

dos atores... o que restou aos diretores que possa justificar<br />

sua responsabilidade pela “autoria” do espetáculo?<br />

Um parêntese histórico<br />

(ou mais histórico ainda)<br />

Um processo idêntico de subdivisão está, antes, na<br />

origem do próprio ofício de diretor, é assim também que<br />

ele nasce.<br />

Admite-se que os primeiros diretores de teatro foram<br />

os autores. Quando os gregos escreviam suas tragédias,<br />

eles próprios orientavam os atores sobre a maneira<br />

como queriam que as representassem. E por muito tempo<br />

a função de escrever peças de teatro esteve associada à<br />

de dirigir o espetáculo. Costumo dizer, meio sacana, que<br />

tão novo quanto o ofício do diretor que põe em cena<br />

peças de vários autores é o ofício do autor que dá seu<br />

trabalho por terminado quando acaba de escrever.<br />

Por essa tese fla-flu de ruptura, o que antes era só o<br />

autor, alguém que escrevia a peça e orientava sua encenação,<br />

se subdivide em dois personagens: o que escreve<br />

e o que põe em cena.<br />

Mas essa ruptura não cria logo um diretor de dedicação<br />

exclusiva, primeiro cola essa função em alguém<br />

Divulgação

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