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DRAMÁTICA NARRATIVA - Leia Brasil

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PROPOSTA DE LEITURA DE MUNDO ATRAVÉS DA <strong>NARRATIVA</strong> <strong>DRAMÁTICA</strong><br />

PEÇA TEATRAL<br />

Duas palavras<br />

sobre Martins Pena<br />

Luis Carlos Martins Pena nasceu no Rio de Janeiro<br />

em 5 de novembro de 1815 e morreu em Lisboa em 7<br />

de dezembro de 1848 – viveu, portanto, apenas 33 anos.<br />

Órfão de pai com 1 ano e da mãe com 10, seus tutores o<br />

orientaram para o comércio. Aos 20 anos concluiu o<br />

curso comercial e, liberado para atender ao seu interesse<br />

e à sua curiosidade, passou a freqüentar a Escola de Belas<br />

Artes – onde estudou arquitetura, estatuária, desenho<br />

e música - e, ao mesmo tempo, começou a estudar línguas,<br />

história, literatura e teatro. Aos 23 anos, em 1838,<br />

tornou-se funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros,<br />

onde fez carreira meteórica e, por volta dos<br />

30 anos tornou-se Adido à Legação do <strong>Brasil</strong> em Londres.<br />

Tendo contraído tuberculose três anos depois, fugiu<br />

do frio londrino, e acabou morrendo em Lisboa, em<br />

trânsito para o Rio de Janeiro.<br />

Sua atividade como dramaturgo se inicia com a peça<br />

O Juiz de Paz na Roça, que estreou no dia 4 de outubro<br />

de 1838, no Teatro São Pedro, produzida pela Companhia<br />

de João Caetano – Martins Pena ainda não completara<br />

23 anos de idade. Nos dez anos seguintes, até a<br />

sua morte, escreveu mais 19 comédias e 6 dramas – construindo,<br />

num tempo muito curto, uma carreira prolífica<br />

que lhe deu o epíteto de fundador da comédia de costumes<br />

brasileira.<br />

Dono de um olhar crítico, registrou, com fidelidade<br />

quase fotográfica, os costumes, as mazelas, os valores,<br />

enfim os comportamentos da sociedade fluminense<br />

de sua época – o meado do século XVIII. Não é, nem<br />

pretendeu ser, autor que vai ao fundo da alma de suas<br />

personagens. Seus tipos humanos são esboçados sempre<br />

com tintas leves, quase desbotadas. Tampouco elabora<br />

com muita originalidade as situações que expõe – na<br />

intenção mesma de mostrar o cotidiano, não o acontecimento<br />

extraordinário. Nos enredos há passagens implausíveis<br />

e inverossímeis e, não raro, contradições. No entanto,<br />

as suas peças têm uma vivacidade tal que<br />

conseguem manter o interesse do espectador sempre aceso<br />

e o humor sempre presente. Em sua obra, é nítido o<br />

choque de um <strong>Brasil</strong> arcaico com um <strong>Brasil</strong> que se<br />

moderniza: a metrópole e a província perplexas, uma<br />

90<br />

com os costumes da outra. Suas personagens oscilam<br />

entre o singelo comportamento provinciano e a sofisticação<br />

– quase sempre artificial – da corte. Há as que<br />

falam com afetação e outras com simplicidade interiorana.<br />

Altos funcionários cruzam com modestos burocratas,<br />

fazendeiros com estrangeiros, além de meirinhos,<br />

juízes, malandros, falsos cultos, intrigantes e fofoqueiros,<br />

casamenteiras e casamenteiros por interesse ou desespero,<br />

em conflito com o autoritarismo patriarcal na<br />

escolha de maridos e profissões. Há traições de todos os<br />

tipos, negociações de dotes, heranças e dívidas e a eterna<br />

carestia. Há exploração dos sentimentos religiosos, desonestidade<br />

dos comerciantes, corrupção das autoridades<br />

públicas – tudo reunido, eis a moldura para um retrato<br />

de tintas quase realistas do <strong>Brasil</strong> de então, traçado,<br />

no entanto, por um comediógrafo romântico e ingênuo,<br />

irônico e divertido. A seu modo - leve, divertido e<br />

sutil -, Martins Pena foi um crítico do tráfico de negros<br />

em plena sociedade escravocrata, dos profissionais liberais<br />

sem escrúpulos, dos usurários e gananciosos, dos<br />

estrangeiros espertalhões e dos espertalhões nativos, dos<br />

desonestos e dos corruptos, dos casamentos de fachada,<br />

das modas e costumes.<br />

Entre as suas peças mais montadas estão As<br />

As<br />

desgraças desgraças de de de uma uma criança criança criança, criança criança As As casadas casadas solteiras solteiras, solteiras Um<br />

Um<br />

sertanejo sertanejo na na na Corte Corte, Corte O O O diletante diletante, diletante Os Os três três três médicos médicos, médicos Quem Quem<br />

Quem<br />

casa casa quer quer casa casa, casa Judas Judas Judas em em Sábado Sábado de de Aleluia Aleluia e O O noviço noviço. noviço<br />

Dous Dous ou ou O O inglês inglês maquinista maquinista, maquinista que ora se publica, é<br />

uma comédia que mostra todas as características mencionadas,<br />

num tom crítico, de certa forma, mais aguçado.<br />

Como em outras peças, parte da ameaça de um amor<br />

contrariado – no caso, o amor entre primos, que moram<br />

na mesma casa. Acontece que a mocinha atrai dois outros<br />

pretendentes: um espertalhão inglês e um traficante<br />

de escravos, que sua mãe, tida como viúva, supunha interessados<br />

nela. Enquanto o inglês quer recursos para<br />

financiar uma máquina estapafúrdia – numa crítica à esperteza<br />

dos imigrantes que chegaram no rastro da família<br />

real beneficiando-se da Abertura dos Portos e, ao<br />

mesmo tempo a uma sociedade que se encanta com a<br />

remota tecnologia. Já a ação do traficante – que presenteia<br />

sua preferida com um negrinho trazido dentro de<br />

um balaio – revela a desenvoltura com que se burla a lei<br />

pelo tráfico de influência e pela corrupção. Nesta moldura,<br />

os mal entendidos, as coincidências e as surpresas<br />

levarão ao riso leve e à crítica aos costumes da época.

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