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Arminianismo e Metodismo – José Goncalves Salvador

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CAPÍTULO III<br />

AS DOUTRINAS ARMINIANAS<br />

Por mais original que alguém nos pareça, descobrimos, ao analisarmos suas<br />

idéias que elas refletem um conjunto de fatores e circunstâncias. Nunca brotam<br />

simplesmente da razão. Algo lhes estimulou o aparecimento. Isto para nada dizer<br />

do muito que se recebe por herança, direta ou indiretamente. Foi assim com os<br />

grandes pensadores, filósofos, moralistas, sociólogos, políticos, etc. E Tiago<br />

Armínio se inclui nessa regra.<br />

As dificuldades gerais que os Países-Baixos enfrentaram durante algumas<br />

décadas do século XVI, calaram fundo em sua vida econômica, política, social,<br />

intelectual e religiosa. A guerra da independência, contra o domínio espanhol,<br />

intolerante, fanático, produziu verdadeira transformação entre os neerlandeses. De<br />

um lado desenvolveu-se o apego à liberdade, tanto civil como religiosa e do outro,<br />

fomentou a atividade comercial e intelectual. Aliás, segundo frisamos<br />

anteriormente, os germes de tudo isso já vinham de tempos passados.<br />

Era natural que, em terreno como esse, desabrochasse também o espírito de<br />

tolerância. E de fato, vem os estadistas do porte de João Oldenbornveldt<br />

advogarem a absoluta liberdade de consciência para todos, fossem protestantes,<br />

romanistas, ou socinianos. Hugo Grotius pensava de igual modo. Coube, porém ao<br />

cidadão Dirk Koornhert atear as chispas da controvérsia que durante anos agitaria<br />

a Igreja Reformada dos Países-Baixos, influenciado, certamente, pela obra<br />

anticalvinista de Sebastião Castellio, publicada em 1578, a qual vinha exercendo<br />

considerável influência a favor da liberdade de pensamento.<br />

Desde 1544 esse teólogo vinha atacando implacavelmente as idéias de<br />

Calvino, na Suíça. No conceito de Koornhert, todas as formas de religião deviam ser<br />

toleradas, mas, ao externar seu ponto de vista, feriu uma das doutrinas<br />

fundamentais do calvinismo, único sistema que o Estado favorecia.<br />

Logo a seguir, em 1602, dois ministros de Delft aderiram ao seu modo de<br />

pensar, combatendo a doutrina da predestinação ensinada por Beza. Este mestre<br />

eminente, conforme dissemos, tinha ido mais longe do que o próprio Calvino, de<br />

sorte a descontentar alguns de sua confissão. Não se conformavam eles com que<br />

Deus decretasse, só por si mesmo, a queda do homem antes ainda de o haver<br />

criado. Isso fazia de Deus, como dizia João Kolman, um tirano e executor.<br />

Havia, pois, nos Países-Baixos, uma corrente de moderados e tolerantes, a<br />

qual se filiavam negociantes, magistrados, teólogos e ministros evangélicos. Gaspar<br />

Kolhares, herói de Leiden, e Rudolph Snelius, patrono de Armínio, eram destes.<br />

Em meio da refrega, escreveu o teólogo Guillaume, professor em Leiden, um<br />

tratado no qual afirmava que, em matéria de religião, não deve haver<br />

constrangimento. Aí está, por conseguinte, uma síntese do espírito da época.

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