Arminianismo e Metodismo – José Goncalves Salvador
Arminianismo e Metodismo – José Goncalves Salvador
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Algumas das idéias de Melanchton provocaram depois verdadeira agitação<br />
na Alemanha, dividindo a Igreja em duas alas: os conservadores e os filipistas ou<br />
sinergistas. As controvérsias somente cessaram em 1580, com a “Fórmula de<br />
Concórdia,” e uma delas foi, exatamente, sobre a predestinação. Afinal, a questão<br />
ficou definida nesse documento, do seguinte modo: “É da vontade de Deus salvar a<br />
todos. A Sua Graça é universal. Entretanto Ele salva apenas aos que aceitarem a<br />
Cristo. Deus salva em consideração aos méritos de Cristo.” O calvinismo, então,<br />
mais uma vez, cedia caminho.<br />
Pouco depois a controvérsia volta a ativar-se com a chegada à Alemanha do<br />
suíço Samuel Hubber. Obrigado a deixar a pátria por causa de seus conceitos anticalvinistas,<br />
filiou-se à Igreja Luterana, servindo como pastor em Tubinga e, a<br />
seguir, como professor da Universidade de Wittenberg. Logo se pôs a ensinar a<br />
doutrina do absoluto universalismo: Deus desde a eternidade elegera todos os<br />
homens para a salvação, mesmo sem levar em conta a fé. Ora, isto, era demais,<br />
contrariando até o espírito da “Fórmula de Concórdia.” Em conseqüência, dois<br />
colegas saíram a campo e lhe rebateram as idéias.<br />
Até no seio da Igreja Católica Romana se discutia o momentoso problema do<br />
livre arbítrio e da parte do homem na sua salvação. Dominicanos (tomistas) e<br />
Franciscanos (scotistas) nele se envolveram. Reacendem-no ao tempo da Reforma,<br />
Michael Bajus e seus colegas também scotistas, todos favoráveis à participação do<br />
homem, ao passo que os oponentes se firmavam em Santo Agostinho. Quando os<br />
jesuítas quiseram fazer o mesmo, Cornélio Jansen, bispo de Ypres, e mais alguns<br />
companheiros da abadia de Port-Roial se levantaram em defesa da doutrina da<br />
salvação exclusivamente pela graça, conforme a acreditavam esposada por aquele<br />
teólogo norte-africano (Agostinho). E o resultado veio de pronto: uma pertinaz<br />
perseguição movida pelos influentes jesuítas contra os jansenistas, a qual colimou<br />
com a fundação, por estes, de nova instituição eclesiástica, independente de Roma:<br />
a Velha Igreja Católica, dos Países-Baixos. Após o Concílio do Vaticano (1870), um<br />
novo ramo se destacou da Igreja Romana, por causa do dogma da infalibilidade<br />
papal, unindo-se à Velha Igreja Católica.<br />
O ARMINIANISMO EM TEMPOS DE RENASCENÇA<br />
Agora, podem os leitores compreender melhor por que escrevemos algures a<br />
respeito de Armínio, dizendo que suas idéias refletiam um complexo de fatos e de<br />
circunstâncias. É que havia por todas as partes o desejo de valorizar o homem.<br />
Agostinianismo e calvinismo já não se coadunavam com a época. A Renascença, as<br />
descobertas e a própria Reforma tinham proporcionado novas luzes. Outros<br />
horizontes se descortinavam aos homens. O arminianismo encontrava solo<br />
propício!<br />
Mas, para não sermos parciais, queremos esclarecer, ainda, que o<br />
arminianismo foi além dos Países-Baixos e não se limitou, simplesmente, ao campo<br />
teológico. Sua influência calou na Filosofia, na Ciência do Direito, na Política e no<br />
terreno da prática, prestando desse modo valiosíssima contribuição à humanidade.