Arminianismo e Metodismo – José Goncalves Salvador
Arminianismo e Metodismo – José Goncalves Salvador
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Era a mentalidade de muitos no seio do ministério anglicano devido ao erro<br />
de atribuírem à fé e às obras um sentido que não tinham. A verdade achava-se<br />
manifesta nas Escrituras e no padrão oficial de doutrinas, porém o tempo se<br />
encarregara de toldá-la. Novas concepções e práticas vestiram-na com roupagens<br />
diferentes. Aos moravianos caberia, então, a sublime tarefa de despertar aos dois<br />
irmãos Wesley, para a realidade e, por meio deles, despertar a tantos outros na<br />
Inglaterra e no mundo.<br />
Os moravianos ensinaram a João e a Carlos Wesley que a fé é experimental e<br />
não mero assentimento às doutrinas da Igreja, ainda que verdadeiras; que ela não<br />
depende dos sacramentos e nem se confunde com as obras. A fé e as obras são<br />
coisas distintas, sem méritos intrínsecos. A salvação é o dom gracioso de Deus,<br />
providenciada pelo sacrifício expiatório de Seu bendito Filho. Cristo é o Redentor<br />
único e exclusivo de nossa alma. A fé nos conduz a Ele e nos move a lhe<br />
entregarmos todo o nosso ser. Pela fé nos apropriamos de Seus méritos. Pela fé nos<br />
identificamos com o <strong>Salvador</strong> Jesus e nos fazemos herdeiros do Seu Reino. Pela fé<br />
visemos uma vida de santidade, de paz e de amor.<br />
As obras, então, resultam de nossa entrega a Cristo Jesus, eterno <strong>Salvador</strong><br />
de nossa alma. Entretanto, só a partir da memorável experiência religiosa de maio<br />
de 1738 os dois irmãos Wesley verificariam que, de fato, nada existe em nós que<br />
nos garanta a salvação: o homem só pode salvar-se pela fé em Cristo <strong>–</strong> “sola fides.”<br />
E nisto eles concordavam com os Reformados (Luteranos).<br />
Falando do acontecimento de 24 de maio, em Aldersgate, João Wesley conta<br />
em seu “Diário”: “À noite fui, muito contra minha vontade, a uma sociedade<br />
(reunião dos crentes moravianos) na rua Aldersgate, onde alguém estava lendo o<br />
prefácio de Lutero à carta aos Romanos. Faltava cerca de um quarto para as nove<br />
horas (20:45h), enquanto ele descrevia a mudança que Deus opera no coração pela<br />
fé em Cristo, senti meu coração abrasado de maneira estranha. Senti que confiava<br />
em Cristo, Cristo somente para a salvação; e foi-me dada certeza de que Ele tinha<br />
tirado os meus pecados, sim os meus pecados e me salvava da lei do pecado e da<br />
morte.”<br />
Tiago Armínio adotava interpretação semelhante à dos luteranos, calvinistas<br />
e metodistas. No seu conceito somos justificados graciosamente por Deus, em<br />
atenção aos méritos de Cristo, ao qual nos unimos pela fé. Cristo é a causa<br />
meritória da justificação; a fé a causa instrumental. 7 Todavia seus seguidores<br />
imediatos, os Representantes, afastaram-se da interpretação do mestre,<br />
aproximando-se mais do romanismo e do anglicanismo, em virtude de atribuírem à<br />
fé, certo valor meritório. Na verdade ela é um dom de Deus, através de cujo<br />
exercício a pessoa faz-se merecedora de maiores bênçãos e, muito embora a<br />
justificação não dependa das boas ações, tais obras são consideradas<br />
indispensáveis. Ainda que imperfeitas, Deus as aceita e recompensa aquele que as<br />
promove. Eis, a propósito, a declaração do teólogo Limborch: “Deve-se lembrar<br />
7 Pope, William Burt - A Comp. of Christ. Teology - Vol. II, Pág. 445.