Arminianismo e Metodismo – José Goncalves Salvador
Arminianismo e Metodismo – José Goncalves Salvador
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Uma coisa não pode ser boa porque Deus não quer que seja boa. É<br />
impossível ser assim, porque a justiça de Deus não permite. A predestinação, em<br />
vista disso, não pode ser ato de Deus, nem se exalta ao Criador, rebaixando-Lhe a<br />
própria criação. 2<br />
2. QUANTO À PREDESTINAÇÃO.<br />
Como dissemos, foi o pomo da discórdia.<br />
Teodoro Beza, sucessor de Calvino, Gomarus e outros sustentavam o<br />
calvinismo extremado. Para eles, Deus manifestara a Sua glória por um decreto<br />
eterno, segundo o qual tinha, em Sua misericórdia, escolhido determinado número<br />
de homens para a salvação, e deixado os restantes ao seu destino, que era a<br />
condenação. Segundo Albert Henry Newmam, no seu livro “A Manual of Church<br />
History,” Vol. II, pág. 339, são de Gomarus as seguintes expressões: “Deus<br />
considerou o homem, no decreto da reprovação, não como caído, mas antes da<br />
queda, e o próprio decreto da reprovação precedeu ao da criação.”<br />
Aí estava a predestinação incondicional, estabelecida pela vontade e<br />
sabedoria de Deus, antes, até, que os mundos e os seres fossem criados.<br />
Armínio viu as implicações de tal doutrina. Ao invés de glorificar a Deus,<br />
rebaixava-o e empobrecia a obra redentora de Cristo. A Cruz perdia seu valor<br />
transcendental e o homem não podia responder, de si mesmo, ao apelo do<br />
<strong>Salvador</strong>: “sim” ou “não.” Pois, segundo essa doutrina, Deus já havia predestinado,<br />
por Sua vontade, os que iam salvar-se, e só estes, de fato, se salvariam. A queda e a<br />
salvação decorriam por igual do plano divino. Todos os homens cairiam em Adão.<br />
Mas aos escolhidos o Criador concederia os meios de salvação e nenhum deles seria<br />
capaz de resistir à Sua graça. Crer, perseverar na fé e ser salvo seriam coisas para<br />
eles inevitáveis. Os demais ficariam à margem desse privilégio. Deus se tornava<br />
arbitrário e injusto. A Deus, portanto, cabia a culpa pela introdução do pecado no<br />
mundo e, também, a responsabilidade pela queda do homem.<br />
Como conciliar tudo isso com a perfeição moral de Deus? Culpar ao homem<br />
por falta que lhe fora determinada, seria injustiça, quando a justiça é um dos<br />
fundamentos da glória de Deus. Nem Ele pode, por ato arbitrário de Sua vontade,<br />
salvar ao injusto, como não pode condenar ninguém independentemente de sua fé.<br />
Deus é sempre coerente consigo mesmo.<br />
Armínio, por essa razão, voltou-se para o infralapsarianismo. Ou, melhor,<br />
aceitou a predestinação condicional. Deus só predestinou após a queda, levando em<br />
consideração, por Sua presciência, a atitude do homem em face da tentação. Logo,<br />
a predestinação era conseqüência do ato humano e, de modo algum, o resultado de<br />
um decreto preestabelecido por Deus. E, assim, a queda realçava a importância e a<br />
responsabilidade da criatura sem deixar com o Criador toda a culpa.<br />
2 Newman, Albert Henry - A Manual of Church History, Vol II: pág. 339.