Arminianismo e Metodismo – José Goncalves Salvador
Arminianismo e Metodismo – José Goncalves Salvador
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sustenta a fé. Nenhuma subsiste sem a outra. Ambas se completam. São meios<br />
concomitantes da salvação. Estão ao alcance do homem e dependem mesmo dele.<br />
De sorte que, se o pecador satisfizer as condições, Deus o perdoa e o salva. É<br />
necessário crer e praticar o que se crê a fim de participar dos méritos de Cristo,<br />
conforme percebemos das seguintes expressões de Susana Wesley, em carta de 13<br />
de janeiro de 1710, dirigida à sua filha Sukey: “Não é aprendendo de cor estas<br />
coisas (isto é, orações, catecismos, credos, passagens da Escritura), nem dizendo<br />
algumas orações de manhã e à noite, que você trará o céu para junto de si. Você<br />
deve entender o que diz e praticar o que sabe.” 2<br />
O casal Samuel e Susana Wesley entendia o batismo e a Santa Ceia de modo<br />
mais ou menos semelhante ao do autor da “Harmonia Apostólica” e também lhes<br />
atribuíam eficácia. O primeiro livra da culpa original e dá acesso à Igreja. A Ceia<br />
completa o batismo, dando forças ao seu participante para vencer o pecado e<br />
ajudando-o a cumprir os deveres da vida cristã.<br />
De tal tipo foi a religião que desde cedo ensinaram aos filhos. A disciplina<br />
era rigorosa. Havia, no lar, regras para quase tudo. Mal começassem eles a falar,<br />
decoravam o Pai-Nosso. As exigências da Igreja, de igual forma, deviam ser<br />
conhecidas e praticadas. Em síntese: o casal Wesley expressava de modo concreto<br />
aquilo em que cria: a justificação como resultado também do esforço individual.<br />
Quando João Wesley saiu do lar pela primeira vez, para ingressar na escola<br />
em Londres, a Charterhouse, levava bem fundas as marcas da educação doméstica.<br />
Por algum tempo deixou de ser tão fervoroso, mas ainda lia as Escrituras, fazia<br />
orações e comungava três vezes ao ano. Nem em Oxford, na universidade, se<br />
afastou dos padrões que cultivara em casa; nem ainda sob o sopro do racionalismo<br />
da época. E, no entanto, sabemos quão curiosa era sua mente, desejando sempre<br />
saber a razão das coisas. Nunca, porém, abandonava um velho conceito, enquanto<br />
não tivesse motivos seguros para deixá-lo. Muitas das modificações que depois nele<br />
se operaram, foram o resultado de conflitos religiosos e não filosóficos, sobretudo<br />
desde Aldersgate.<br />
Um dos problemas que cedo começaram a preocupá-lo, foi o da<br />
predestinação. Era quase impossível viver cercado de idéias arminianas e<br />
conformar-se com as do calvinismo. Nem precisava conhecer as de Tiago Armínio,<br />
pois nos antigos padres gregos, Irineu, Orígenes e outros, e na literatura inglesa<br />
acharia conceitos semelhantes aos do teólogo de Leiden.<br />
Quem sabe teria lido algo de Hooker e Baro? As obras de William Laud, de<br />
Ralph Cudworth, e ignoramos quantos mais, estavam ao seu redor, nas livrarias e<br />
nas bibliotecas. Além disso, muitos, dentro da Igreja, já haviam abraçado o<br />
arminianismo. John J. Tigert, na introdução à obra de Caspar Brandt, sobre<br />
Armínio, confirma o que por mais de uma vez temos dito: “Quando João Wesley<br />
estava em Oxford, na terceira década do século dezoito, e foi ordenado diácono e<br />
2 Cannon, W. R - Op. Cit. - Pág. 47.