Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem
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modificações nos novos registros textuais, prova <strong>de</strong> que o texto é, <strong>em</strong> essência, algo<br />
mutável, que se submete a diferentes leituras, no <strong>de</strong>correr do t<strong>em</strong>po.<br />
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Desse modo, a supressão <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos, assim como a inserção,<br />
são modificações impingidas aos referenciais, pautadas no nível das dificulda<strong>de</strong>s,<br />
inerentes ao processo <strong>de</strong> síntese e leitura. O corte <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos é notável na<br />
retirada <strong>de</strong> adjetivos como no caso <strong>de</strong> novo, das onomatopéias treque e até a<br />
omissão <strong>de</strong> informações, como a procedência do leite. Além disso, a criança muda a<br />
construção dos períodos, alterando termos, que a princípio estariam subentendidos,<br />
inserindo-os no texto: que tinha; e ela estava; e ela estava indo para o, além <strong>de</strong><br />
outros que aparec<strong>em</strong> no <strong>de</strong>correr da narrativa. Tais intervenções nos textos,<br />
realizadas pelos alunos, estão pautadas no nível das dificulda<strong>de</strong>s inerentes ao<br />
processo <strong>de</strong> domínio da síntese e da leitura.<br />
Somam-se às informações <strong>de</strong> construção narrativa as conclusões do<br />
leitor, ação que extrapola a imparcialida<strong>de</strong> do responsável pela escrita:<br />
(...) ela sonhou com coisas muito difícil <strong>de</strong> acontecer se ela tinha só<br />
uma lata <strong>de</strong> leite para ven<strong>de</strong>r (A4, 2006, Texto 27).<br />
Parte da crítica, como Benjamin (1923), con<strong>de</strong>na quando se tratam<br />
<strong>de</strong> reescritas profissionais (tradução e/ou adaptação), voltadas para o mercado, a<br />
inserção <strong>de</strong> valores estranhos ao texto original, como acontece com a inclusão <strong>de</strong><br />
juízos <strong>de</strong> valor. Outros, a ex<strong>em</strong>plo do próprio Monteiro Lobato, reconhec<strong>em</strong> a<br />
participação do autor, que é, <strong>em</strong> realida<strong>de</strong>, o primeiro leitor, cujo repertório <strong>de</strong><br />
conhecimentos prévios po<strong>de</strong>, voluntária ou involuntariamente, influenciar o texto<br />
final, prática que acontece na transposição do texto canônico pela criança, tanto no<br />
nível estrutural quanto no i<strong>de</strong>ológico.<br />
O texto seguinte altera um it<strong>em</strong> quase sagrado para o adaptador<br />
mirim: o título. Poucas reescritas alteraram o nome da fábula. As produções <strong>de</strong>sse<br />
grupo tiveram duas ocorrências. No caso <strong>em</strong> questão, o título original recebeu um<br />
acréscimo, o que alterou A menina do leite para A menina do pote <strong>de</strong> leite. O<br />
acréscimo do substantivo simples, que assume a função <strong>de</strong> núcleo do predicado,<br />
antecipa o motivo do conflito, uma vez que a queda do pote é o gerador do<br />
probl<strong>em</strong>a, responsável pela não concretização das ilusões da personag<strong>em</strong>.<br />
A reprodução textual é muito parecida com a obra original, pois<br />
como ocorre com outras produções, acontece uma espécie <strong>de</strong> mediação lingüística,