Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem
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insuficiência das formas <strong>de</strong>finíveis dos seus precursores que o seu<br />
próprio <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> pôr a ‘refugiar’ essas formas, <strong>de</strong> acordo com as<br />
suas próprias necessida<strong>de</strong>s (MARTIN, apud HUTCHEON, 1985 p.<br />
14-15, aspas do autor).<br />
Como assinala a <strong>de</strong>finição mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> paródia, apresentada por<br />
Hutcheon (1985), o gênero é uma forma <strong>de</strong> repetição que inclui diferença, imitação<br />
com distância crítica, cuja ironia po<strong>de</strong> beneficiar e prejudicar ao mesmo t<strong>em</strong>po. Tal<br />
<strong>de</strong>finição mostra o recurso paródico não como simples apropriação <strong>de</strong> um texto, e<br />
sim como a construção <strong>de</strong> um novo, rebatendo as críticas que a acusam <strong>de</strong><br />
parasitária.<br />
Fábulas (1922), <strong>de</strong> Lobato, é um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> reconstrução, permitido<br />
pela paródia, <strong>de</strong> um novo texto que, <strong>em</strong>bora fruto da herança cultural, reconstrói um<br />
novo enredo, a partir <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos do texto-fonte.<br />
Desse modo, ressalta-se que a paródia é uma importante forma da<br />
mo<strong>de</strong>rna auto-reflexivida<strong>de</strong>, por ser um discurso interartístico que age como<br />
integradora <strong>de</strong> diferentes expressões <strong>de</strong> arte e cultura.<br />
A paródia é, pois, tanto um acto pessoal <strong>de</strong> suplantação, como uma<br />
inscrição <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> histórico – literária. Daí surgiu a teoria dos<br />
formalistas acerca da teoria da paródia na evolução ou mudanças<br />
das formas literárias. A paródia era vista como uma substituição<br />
dialética <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos formais cujas funções se tornaram<br />
mecanizadas ou automáticas. (...) Uma nova forma <strong>de</strong>senvolve-se a<br />
partir da antiga, s<strong>em</strong> na realida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>struir; apenas a função é<br />
alterada. A paródia torna-se, pois, um princípio construtivo na história<br />
literária (HUTCHEON, 1985, p. 52).<br />
É fundamental perceber que a paródia não é apenas aquela imitação<br />
ridicularizadora, mencionada nas <strong>de</strong>finições dos dicionários populares. Superar esta<br />
limitação do seu sentido original é um <strong>de</strong>safio essencial para que se <strong>de</strong>scubra uma<br />
teoria a<strong>de</strong>quada à realida<strong>de</strong> do recurso no circuito das produções literárias.<br />
Assim, é uma forma <strong>de</strong> imitação caracterizada por uma inversão<br />
irônica, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre à custa do texto parodiado, pois essa é uma característica <strong>de</strong><br />
toda a paródia. Do mesmo modo, a crítica não t<strong>em</strong> <strong>de</strong> estar presente na forma do<br />
riso ridicularizador, como na fábula A formiga boa, para que a paródia seja<br />
apontada.<br />
A paródia <strong>em</strong> termos s<strong>em</strong>ióticos po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como uma forma<br />
<strong>de</strong> representação <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> original. Geralmente, a representação é <strong>de</strong><br />
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