Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem
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Os editores pagam menos (pela tradução) e o público não lhes<br />
reconhece o mérito. Daí o impasse. (...). Nos países civilizados a<br />
função <strong>de</strong> tradutor está equiparada à <strong>de</strong> escritor. V<strong>em</strong>os Bau<strong>de</strong>laire<br />
receber <strong>em</strong> França tantos aplausos pelas suas traduções <strong>de</strong> Edgard<br />
Poe como pelos seus versos (LOBATO, 1950, p. 128).<br />
Assim, abre-se marg<strong>em</strong> para mais um impedimento para a prática<br />
tradutória, que além <strong>de</strong> esbarrar nas probl<strong>em</strong>áticas lingüísticas ainda possui outro<br />
agravante que <strong>de</strong>smotiva a prática da tradução: a má r<strong>em</strong>uneração dos tradutores.<br />
Além <strong>de</strong> ser uma ativida<strong>de</strong> complexa e <strong>de</strong> requerer, <strong>de</strong> seu executor, uma variada<br />
gama <strong>de</strong> conhecimentos, <strong>de</strong>para-se ainda com a falta <strong>de</strong> reconhecimento, atribuída<br />
apenas aos escritores, <strong>de</strong>vido à marca <strong>de</strong> originalida<strong>de</strong> <strong>em</strong>butida, que não se<br />
esten<strong>de</strong> para os que se <strong>de</strong>dicam <strong>em</strong> acessibilizar obras alheias.<br />
Mesmo assim, a tradução esteve vinculada diretamente à vida<br />
pessoal <strong>de</strong> Monteiro Lobato, servindo <strong>de</strong> forma <strong>de</strong> sustento <strong>em</strong> meio às crises<br />
financeiras por ele enfrentadas no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> sua vida. Além da questão pecuniária,<br />
o autor <strong>de</strong> Fábulas (1922) mergulhou no ofício <strong>de</strong> tradutor como recurso <strong>de</strong><br />
relaxamento ou entorpecimento. Tal idéia fica evi<strong>de</strong>nte na fala, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />
1940, extraída <strong>de</strong> um estudo teórico, que abre o presente capítulo na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
epígrafe, e alu<strong>de</strong> ao ato tradutório o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> esquecer os probl<strong>em</strong>as 10 enfrentados<br />
pelo autor.<br />
Mesmo com a crítica ressaltando a importância do papel do tradutor<br />
Lobato para a história da literatura brasileira, por meio da ampliação do acesso <strong>de</strong><br />
culturas, até então <strong>de</strong>sconhecidas, o prestígio do autor po<strong>de</strong> produzir dois efeitos na<br />
recepção <strong>de</strong> suas traduções. O primeiro <strong>de</strong>les, apontado por Travassos (1974), seria<br />
o <strong>de</strong> <strong>em</strong>prestar, graças a sua influência literária, mérito à tradução realizada. Já o<br />
outro efeito, <strong>de</strong> caráter contrário, consiste <strong>em</strong> atribuir muitas expectativas quanto ao<br />
conteúdo esperado, s<strong>em</strong> levar <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o momento histórico-literário, o<br />
próprio pioneirismo do escritor-tradutor e as expectativas do leitor que po<strong>de</strong>m não<br />
coincidir com os objetivos da tradução da obra literária.<br />
Ao <strong>de</strong>ixar as questões pessoais e vislumbrar o todo, é claramente<br />
perceptível que a popularização da tradução lobatiana impulsiona a literatura<br />
brasileira positivamente, permitindo que importantes influências pass<strong>em</strong> a fazer<br />
10 “Continuo traduzindo. A tradução é minha pinga. Traduzo como o bêbado bebe: para esquecer, para atordoar.<br />
Enquanto traduzo, não penso na sabotag<strong>em</strong> do petróleo”. AZEVEDO, Carm<strong>em</strong> Lúcia, et al. Monteiro Lobato:<br />
Furacão na Botocúndia. São Paulo: Senac, 1997, p. 355.<br />
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