Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem
Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem
Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - Uem
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
literárias que permitam o reconhecimento do <strong>de</strong>svio <strong>de</strong>ssas normas constituintes do<br />
cânone - a herança constitucionalizada da língua e da literatura.<br />
Para Hutcheon (1985) a não <strong>de</strong>scodificação, por parte do leitor,<br />
prejudica a acessibilida<strong>de</strong> à intenção dos textos, ou seja,<br />
se o leitor não consegue reconhecer uma paródia como paródia (já<br />
por si uma convenção estética canônica) e como uma paródia a uma<br />
certa obra ou conjunto <strong>de</strong> normas (no todo ou <strong>em</strong> parte), então faltalhe<br />
competência. Talvez seja por esta razão que a parodia é um<br />
gênero que, como vimos, parece florescer essencialmente <strong>em</strong><br />
socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>mocráticas culturalmente sofisticadas (HUTCHEON,<br />
1985, p. 119, grifo da autora).<br />
Por isso, constata-se que para a compreensão da paródia e da<br />
ironia, esta última, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada como mecanismo interpretativo, faz-se necessário<br />
um conjunto <strong>de</strong> valores institucionalizados <strong>de</strong> alcance estético, ou seja, genéricos,<br />
ou sociais, portanto <strong>de</strong> alcance i<strong>de</strong>ológico e ina<strong>de</strong>quados ao leitor mais jov<strong>em</strong> que<br />
apresenta dificulda<strong>de</strong> para lidar com um campo significativo tão complexo. Esses<br />
requisitos são necessários para a compreensão dos recursos e <strong>de</strong>les também<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m sua existência, uma vez que o domínio dos protocolos <strong>de</strong> codificação e<br />
compreensão garante a formação do texto e a acessibilida<strong>de</strong> a ele.<br />
A ironia po<strong>de</strong> ser o principal mecanismo retórico para <strong>de</strong>spertar a<br />
consciência do leitor para o texto, já que participa no discurso paródico como uma<br />
estratégia para o alcance real do significado almejado pelo parodista, sendo uma<br />
forma sofisticada <strong>de</strong> expressão. Diante do exposto, po<strong>de</strong>-se, então, ressaltar a ironia<br />
como um recurso estilístico <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, o qual os escritores po<strong>de</strong>m<br />
lançar mão para elucidar situações e, conseqüent<strong>em</strong>ente, suas narrativas.<br />
É difícil separar estratégias pragmáticas <strong>de</strong> estruturas formais,<br />
quando se fala da ironia ou da paródia, pois uma implica a outra. Por outras<br />
palavras, uma análise puramente formal da paródia, enquanto relacionamento <strong>de</strong><br />
textos, não fará justiça à complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes fenômenos; o mesmo acontecerá<br />
com uma análise puramente hermenêutica que, na sua forma mais extr<strong>em</strong>a, vê a<br />
paródia como criada por “leitores e críticos, e não pelos textos literários <strong>em</strong> si”<br />
(HUTCHEON, 1985, p. 50).<br />
Tanto a ironia quanto a paródia operam <strong>em</strong> dois níveis – um,<br />
superficial ou primeiro plano; e outro, <strong>de</strong>nominado plano <strong>de</strong> fundo. Mas <strong>de</strong>sse último,<br />
46