FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...
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3.3 REFÚGIOS DO EU<br />
Nome: Antonio Carlos Jobim<br />
Naturalidade: Carioca<br />
Data de nascimento: Tenho 31 anos de Ipanema porém nasci na Tijuca<br />
(rua Conde de Bonfim) a 25 de janeiro de 1927<br />
Filiação: Pai gaúcho, falecido (o poeta Jorge Jobim) e mãe carioca<br />
(nascida Brasileiro de Almeida)<br />
Profissão: Músico<br />
Há músicos na família?<br />
Meu lado materno está cheio de gente musical e q praticava música mas,<br />
até onde sei, nenhum se profissionalizou. Minha avó tocando piano, tios tocando<br />
violão, mamãe cantando e tudo mais...<br />
Desde que me lembro de mim gosto de música. Minhas primeiras<br />
lembranças me levam às cantigas de ninar q. minha mãe cantava. Depois à<br />
calçada e às cantigas de roda. A família era grande e morávamos num casarão de<br />
2 andares ligados por aquela escada de madeira que range. Lembro-me dos meus<br />
tios tocando violão e de minha tia cantando. Vinham os choros, as valsas, os<br />
espanhóis, Bach e tudo mais até que me mandavam para (a) cama. Subia a<br />
escada, com medo do escuro, e ia me deitar. Na cama eu me consolava ouvindo<br />
os sons meio distantes do violão, doces, lá embaixo na sala e tudo se apagava.<br />
Dia de sábado chegavam outras pessoas que tocavam e cantavam em<br />
contracanto. Eu ficava bobo achando todo mundo craque. Depois veio a<br />
juventude, o estudo e, o pavor do estudo (acho que isto diz tudo).<br />
O professor queria as escalas mas eu achava a praia muito mais bonita –<br />
ia vivendo. Soprava numa gaita as musiquinhas que ia ouvindo, arranhava o<br />
violão e batucava misticamente (ergue os olhos para cima) o piano até o<br />
desespero da vizinhança.<br />
Nunca pensei em música como profissão. A música, se bem que objeto<br />
de minha paixão, era um prêmio que as horas de folga oferecem.<br />
Depois do futebol na praia, depois dos estudos, que eram as obrigações,<br />
só de música eu me ocupava. Me lembro da minha falta de gosto, da minha<br />
saúde, da minha violência, aos 16 anos, quando tocava aquele piano ininterrupto<br />
que era o desespero do quarteirão, numa obsessão inconsciente, obsessão na<br />
qual quem tocava não sabia que estava tocando. (Acervo ACJ, Pi1093)<br />
Percorri esse texto por entre 18 folhas, lançadas no caderno 2, espremido entre<br />
letras de músicas, bilhetes e várias anotações como se fosse um prêmio que as horas<br />
de trabalho ofereciam. Ao que parece, foi uma tentativa de currículo profissional,<br />
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