FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...
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Esse é um exemplo da ansiedade de ambos, pois Tom já tinha emplacado<br />
algumas boas canções no rádio e gravado em disco a “Sinfonia do Rio de Janeiro”, em<br />
parceria com Billy Blanco. De outro lado, Vinicius já era o poetinha que em 1933,<br />
lançou seu primeiro livro, O caminho para a distância 33 . Tinha na bagagem oito<br />
livros com boa aceitação, duas peças, As feras e Cordélia e o peregrino e era o<br />
diplomata mais excêntrico de seu tempo.<br />
A convivência com Vinicius foi maravilhosa. Aquela amizade, a gente<br />
ria, a gente saía, comia umas coisinhas, “comidinha de bêbado”, como dizia ele.<br />
Uns camarõezinhos e aquele uísque todo. Antes de me conhecer, ele bebia<br />
chope no Alcazar. Depois, com a ida para o Itamaraty, foi levando a vida no<br />
uísque. Vinicius me levou para aquelas casas bonitas do Cosme Velho, aquelas<br />
mulheres bonitas, cheirosas. Ele conhecia a alta sociedade do Rio, esse pessoal<br />
tradicional 34 .<br />
Foi com essa bagagem que começou a produção de Orfeu da Conceição,<br />
primeira peça com o elenco inteiramente de negros. A peça trazia como Orfeu o<br />
famoso cantor Haroldo Costa, e a iniciante Daisy Paiva no papel de Eurídice. Como a<br />
Morte, ou melhor, a Dama negra, o campeão olímpico do salto triplo Adhemar<br />
Ferreira da Silva. A direção era de Leo Jusi, figurinos de Lila de Moraes, coreografia<br />
de Lina de Luca e cenários de ninguém menos que Oscar Niemeyer. A peça estreou a<br />
25 de setembro de 1956 no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Críticas a favor e<br />
contra, o certo é que a peça conseguiu muita repercussão e que, mais tarde, foi<br />
adaptada para o cinema. O filme ganhou a Palma de Ouro, em Cannes. Durante a<br />
entrevista de Tom no Depoimento para a posteridade, Vinicius de Moraes denuncia a<br />
implicância de alguns por esse pioneirismo da peça e lembra que ouviu:<br />
Por que vocês não filmam coisas bonitinhas? Copacabana Palace?<br />
[pausa] Inclusive essas coisas devem ser ditas porque as pessoas precisam saber<br />
33<br />
Livro de estréia de Vinicius de Moraes, onde reuniu seus primeiros poemas. Substituindo o prefácio,<br />
ele escreve: “São quarenta poemas intimamente ligados num só movimento, vivendo e pulsando juntos,<br />
isolando-se no ritmo e prolongando-se na continuidade, sem que nada possa contar em separado. Há<br />
um todo comum indivisível.” (MORAES, 2004, p. 165)<br />
34<br />
Essa citação foi colhida num dos painéis biográficos da exposição Nas trilhas do Tom, realizada no<br />
Rio Design Barra, em 2002, para comemorar a inauguração do Instituto Antonio Carlos Jobim. Não foi<br />
possível localizar a fonte inicial.<br />
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