FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...
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Mas, é preciso lembrar que há arquivo mesmo sem arquivistas, pois, como<br />
vimos, o acervo de Tom começou e se estruturou sem receber tratamento técnicoarquivístico<br />
adequado por quase 57 anos: desde 1944, aproximadamente o ano em que<br />
Tom começou a escrever suas letras e músicas, até 2001, ano do início do trabalho no<br />
IACJ. Embora, a pesquisa histórica usasse as fontes arquivísticas, ao menos desde o<br />
século XVIII, só haverá maior interesse pela documentação de arquivos pessoais no<br />
fim do século XX 11 .<br />
Comparada com outras ciências, a Arquivologia 12 é relativamente recente.<br />
Depois do século XVIII, quando a “modernidade no Ocidente [foi] associada ao<br />
desenvolvimento de ideologias individualistas” (VELHO, 2003, p.39), a Arquivologia<br />
ganhou terreno para florescer. Ainda hoje, no entanto, o arquivista muitas vezes é<br />
confundido com um “detetive”, alguém que “caça” um documento em meio ao caos,<br />
ou com aquele funcionário que “tem o arquivo na cabeça” (e, provavelmente, apenas<br />
lá). Desconhece-se que o arquivista é também um pesquisador, um estudioso de fontes<br />
de primeira mão, alguém que vai criar planos para nortear a organização do arquivo,<br />
ferramentas para dialogar com os usuários, atender ao pesquisador, criando uma<br />
metodologia para atender a seu trabalho de pesquisa no acervo.<br />
No entanto, isso não significa que o arquivista se conduza por um prisma<br />
“utilitarista”. A respeito, cabe o alerta feito por Thiollent, sobre o risco de, sob o<br />
argumento da eficiência, do utilitarismo nas decisões, confundir-se prática científica<br />
com prática administrativa. Se é correto afirmar que os dias de hoje solicitam do<br />
arquivista uma visão utilitária em sua atuação junto ao arquivo, o predomínio dessa<br />
visão pode torná-lo um mero administrador do arquivo, quando não um seu<br />
“agenciador” no pleito de patrocínios junto a órgãos públicos e privados, e na busca<br />
de “visibilidade” (maior exposição do arquivo) com o fim de torná-lo viável<br />
comercialmente, esquecendo-se talvez de pensar a obra arquivada. Pensar-se a obra<br />
arquivada é também tarefa do arquivista; a prevalência da lógica da eficiência e do<br />
utilitarismo significa, cada vez mais, a morte desse pensamento científico. Se o<br />
objetivo teórico do arquivista — aquele que lida mais própria e essencialmente com<br />
11<br />
Lembro também que no fim de 1997, quando terminei a faculdade de Arquivologia, fui a única a<br />
apresentar monografia sobre arquivos pessoais.<br />
12<br />
Alguns autores, mais ligados à corrente canadense, disseminaram o termo Arquivística, como<br />
sinônimo.<br />
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