FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...
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cargo da Odeon, anuncia o fato ao seu superior, Harold Morris, que tenta demovê-lo<br />
da idéia.<br />
Eu disse: “Mr. Morris, não dá para ficar aqui, quero escrever arranjos”.<br />
Mr. Morris disse assim: “Quando você quiser um arranjo, você pega o telefone.<br />
Tem aqui quatro telefones na sua mesa”. Naquele tempo, o cara que tinha<br />
quatro telefones era um assombro. Eu me lembro que meu ordenado era um<br />
absurdo de 15 mil cruzeiros. Era tanto dinheiro que me mudei logo para um<br />
apartamento maior. Quando saí do cargo de diretor artístico da Odeon, Mr.<br />
Morris disse que não se podiam mudar as pintas do leopardo. Eu me senti<br />
maravilhoso – me senti “O Leopardo” 24 .<br />
Produzir sua obra — compô-la, pensá-la, executá-la — torna-se então seu<br />
único trabalho. Embora com um início difícil e conflituoso, Tom conseguiu gravar<br />
algumas músicas no início dos anos 1950:<br />
1.4.3 COMPOSITOR <strong>DE</strong> SI MESMO<br />
Algumas das minhas primeiras músicas foram gravadas pelo Ernani<br />
Filho, que era o cantor do Ary Barroso. Eu não tinha coragem de escrever uma<br />
música e entregar para um cantor. Certamente, ele jogaria fora, não valeria a<br />
pena... Mas a primeira música gravada foi “Incerteza”, pelo Mauricy Moura,<br />
um santista que morou em São Paulo. Ele gostou e gravou. Sempre me<br />
convidaram para gravar. Paulo Serrano, lá da Sinter, queria que eu fizesse um<br />
disco meu. Eu fugia do Paulo, apavorado: “Esse cara quer que eu seja cantor!”.<br />
Ernani gravou duas músicas minhas: “Pensando em você” e “Faz uma semana”,<br />
num mesmo 78 rotações, com arranjos muito bonitos do Lírio Panicalli. Eu fiz<br />
um foxtrote que está perdido por aí, chamado “Manhattan” em parceria com o<br />
Aloísio de Oliveira, num disco que ele mandou para os Estados Unidos.<br />
(Acervo ACJ, E14)<br />
Tom disse, em entrevista a Roberto D’Ávila para a Tv Manchete, em 1981,<br />
que sua aptidão musical não foi obra do destino, mas de “sucessivos acasos” (Acervo<br />
ACJ, E14). Talvez ele não percebesse, na época, mas todos os acasos aos quais se<br />
24<br />
Essa citação foi colhida num dos painéis biográficos da exposição Nas trilhas do Tom, realizada no<br />
Rio Design Barra, em 2002, para comemorar a inauguração do Instituto Antonio Carlos Jobim. Não foi<br />
possível localizar a fonte inicial.<br />
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