FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...
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O apartamento em Manhattan foi comprado por causa da vista. Ana tinha<br />
escolhido um apartamento, no sexto andar, com o dobro do tamanho e a metade do<br />
preço do que acabaram adquirindo, no 22º andar. Todos tentaram demovê-lo da idéia<br />
de comprar esse apartamento, incluindo seu contador, mas Tom disse à Ana: “Eu<br />
quero esse. Eu vou comprar esse apartamento”. Ele era completamente indevassável,<br />
com vista de boa parte da cidade: “a view with the room”. Depois, o contador, disse<br />
“Ah, ele tinha razão, vai ver eu gosto mais de dinheiro do que ele” (JOBIM, 2007).<br />
A outra casa ficava na rua Sara Vilela, no alto Jardim Botânico, no “sovaco do<br />
Cristo”, apelido que ele consolidou 10 . Esse projeto começou em 1979 e durou quatro<br />
anos: até 1982. Ana Jobim lembra que o poema “Chapadão” (transcrito integralmente<br />
no Anexo C) começou junto com a obra, mas levou oito anos para ser terminado,<br />
tendo sido publicado no livro Ensaio poético¸ dela e de Tom Jobim, em 1986.<br />
Os arquitetos foram Paulo Jobim e Maria Elisa Costa 11 , mas não sem os vários<br />
retoques de Tom – cliente exigente e “criativo”. Paulo narra à jornalista Camila Pires,<br />
como começou a obra:<br />
Eu fiz o projeto da casa junto com a Maria Elisa Costa. Eu trabalhei por<br />
muitos anos com ela e alguns projetos tinham consultoria do Lucio Costa, uma<br />
figura maravilhosa. A casa era separada do chão para não entrar umidade e para<br />
poder passar vento embaixo. Havia toda uma preocupação com o sol e as telhas<br />
eram de vidro para a luz entrar. A posição da casa acabou ficando totalmente<br />
norte, sul, leste, oeste.<br />
Meu pai gostou do negócio de pegar a bússola e calcular a posição do<br />
sol. Então, a gente descobriu como fazer a conta de que horas era realmente<br />
meio-dia (porque o meio-dia do relógio não é a hora exata em que o sol passa<br />
verticalmente em cima de nossas cabeças). Parece que é quando o sol passa<br />
meio-dia em Ubatuba. E a gente fez essa conta para saber a hora em que o sol<br />
estaria passando reto no terreno. O sujeito lá da obra colocou um fio de prumo<br />
pendurado numa madeirinha (aquele chumbinho pendurado com uma corda) e,<br />
quando chegou meio-dia e dezesseis ou dezesseis para o meio-dia, a gente riscou<br />
a sombra do sol, que fica exatamente ao norte. A gente riscou no chão e a casa<br />
toda ficou marcada. Isso era uma curtição maluca. (PIRES, 2007)<br />
10<br />
“Suvaco [sic.] do Cristo” é o nome de um dos mais famosos blocos de Carnaval da Zona Sul carioca.<br />
Um de seus fundadores, o médico João Carlos Avelleira, contou à autora que ele batizou o bloco<br />
quando leu uma entrevista em que Tom falava que morava no “sovaco do Cristo”. Também no poema<br />
“Chapadão” (Anexo C), Tom menciona o “sovaco cristão”.<br />
11<br />
Filha de Lucio Costa e Julieta Guimarães Costa. Dirigiu o IPHAN de 2004 a 2006 e, atualmente,<br />
mantém a Casa Lucio Costa, no Jardim Botânico, em parceria com sua única filha, Julieta Sobral.<br />
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