FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...
FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...
FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Embora seja uma tarefa proveitosa, pesquisar e falar de arquivos de famosos,<br />
de mitos 7 como Tom Jobim, é preciso sempre ter em mente dois fatores: o primeiro<br />
diz respeito à privacidade do titular e familiares e o segundo à veracidade dos fatos. A<br />
pesquisadora Eliane Vasconcellos nos lembra da disposição que tem o autor de um<br />
documento de caráter pessoal de se mostrar despido frente ao destinatário. As cartas, e<br />
por extensão, os documentos de arquivos pessoais servem ao propósito de fazer-se<br />
presentes quando não é possível a presença e de contar confidências, lembranças e<br />
detalhes em quem se confia, um amigo próximo.<br />
A correspondência permaneceu durante muito tempo sepultada nos<br />
arquivos públicos ou privados, só recentemente passou a ter valor como<br />
documento de maior importância. Os pesquisadores têm-se conscientizado de<br />
que podem encontrar nela dados relevantes: a missiva funciona como<br />
testemunho vivo de uma época, pode documentar uma história pessoal, registrar<br />
situações, ações e reflexões. [...]<br />
Por se tratar de um discurso informal, na carta se expõem idéias e<br />
sentimentos que são reduzidos e interpretados por um terceiro — o leitor. Por este<br />
motivo, nós, que trabalhamos com correspondências encontradas em arquivos<br />
privados, devemos ter em mente alguns problemas de ordem ética e jurídica, que<br />
de certa forma encontram suas raízes nas observações feitas por Bandeira ao<br />
publicar as cartas de Mário. (VASCONCELLOS, 1998, p.8)<br />
Carlos Drummond de Andrade também se mostrou preocupado com a guarda<br />
e o uso dos seus arquivos (e de seus amigos próximos). Em vários momentos de seus<br />
textos lembra do cuidado necessário com as “coisas domésticas”, como mencionado<br />
na crônica "O quarto violado do poeta", publicada no Jornal do Brasil, de 2 fevereiro<br />
de 1978, onde se compadece de Manuel Bandeira que recebeu uma “homenagem”,<br />
sob forma de documentário, onde seu quarto de hotel foi filmado, sem autorização.<br />
Mas, em nenhum outro texto Drummond se empolga tanto como no “Museu-<br />
fantasia”, em que sugere a criação de um lugar que possa abrigar, organizar, tratar e<br />
divulgar corretamente os arquivos dos escritores brasileiros como ele.<br />
Outro ponto importante é o cuidado em não podermos admitir como<br />
verdadeiro tudo o que está escrito em um documento privado. Nem mesmo<br />
7<br />
Segundo Edgard Morin, são astros de cinema, ídolos da música, ícones da realeza convertidos pela<br />
cultura de massa em “olimpianos” da atualidade, com cada momento das suas vidas rasgados nos<br />
cotidianos da imprensa.<br />
13