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FUNDAÇÀO GETULIO VARGAS DE OLHO NA ETERNIDADE: a ...

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esses conceitos, mas é possível observar como eles se interpõem e se completam.<br />

Embora existam vários estímulos para a memória em uma pessoa, ela sempre<br />

precisará se coligar a outros estímulos, coletivos, para efetivamente se lembrar do<br />

fato. Ou seja, a memória é sempre individual e coletiva, a um só tempo. É necessário<br />

entender o limite que a memória individual pode trazer; uma memória que possa nos<br />

tornar únicos. Sempre que selecionamos o que lembrar e, por extensão, o que<br />

esquecer, fazemos escolhas que nos diferenciam dos outros, inclusive dos que<br />

viveram os mesmos fatos conosco (HALBWACHS, 1990, p. 37). Essas escolhas<br />

compõem nosso discurso, que exibe o que pensamos, o que queremos enfatizar ou o<br />

que queremos esconder (CHAGAS, 2002, p.35). A construção da identidade de um<br />

povo, grupo ou indivíduo passa necessariamente pelo que ele selecionou de seu<br />

passado e como ele quer se mostrar no presente. Segundo Jacques Le Goff, “a<br />

memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou<br />

coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das<br />

sociedades de hoje” (LE GOFF apud MAGALHÃES, 2006, p.4). E a memória é base<br />

essencial da escrita, que remonta lugares, combina textos e ordena as idéias no papel.<br />

Nessa hora, quanto maior a bagagem, maior o embaralho na produção do texto e, ao<br />

contrário, se há falta de memória, o texto ganha lacunas. (GONTIJO, 2004, p.187)<br />

Desde o século XVIII 5 , os homens comuns ganharam espaço na vida pública e<br />

foram “descobertos” pelos pesquisadores abrindo caminhos para novas coleções em<br />

museus, novos cursos nas faculdades, estudos e práticas mercadológicas na sociedade<br />

em geral. Eis, então, o início da luz sobre os registros do cotidiano. Embora não seja<br />

imparcial, como nenhuma fonte é, os documentos pessoais se destacam por uma certa<br />

informalidade com o que se registra, pela intimidade dos conteúdos dos registros e<br />

pelo caráter, muitas vezes, inusitado do que se registra. Por esse motivo, histórias<br />

como a do marinheiro bordador, João Cândido, durante a Revolta da Chibata 6 , e de<br />

Anne Frank no Holocausto, não passaram despercebidas. O que passa a importar é a<br />

versão do fato, como o autor percebeu o que aconteceu.<br />

5<br />

Segundo Angela de Castro Gomes, datação difícil, mas segura.<br />

6<br />

Contada por José Murilo de Carvalho: o comandante João Cândido bordou, em toalhas de mão, seu<br />

sofrimento pelos maus-tratos e pela partida de amigos — ato pouco pensado para homens, e ainda mais<br />

nessas circunstâncias! (CARVALHO, 2006, p.26)<br />

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